sábado, 18 de setembro de 2010

Mulher descobre, com DNA, que filho não é seu 24 anos depois

Revolta, angústia, desamparo, sensações que se misturam e tiram o sono de uma mulher de 50 anos, moradora de Vitória, diante de uma revelação dolorosa: o filho que ela cria há 24 anos não é seu. Teria sido trocado numa maternidade da cidade. O Ministério Público Estadual investiga essa possível troca. Enquanto isso, a mulher se pergunta: onde está o seu menino?

X. (inicial fictícia), que trabalha num bar na periferia da Capital, até a noite de ontem não havia revelado o fato ao seu filho não-biológico. A mulher espera, neste final de semana, poder dizer a ele que um exame de DNA, feito por meio do Ministério Público, comprovou que nem ela e nem o homem que durante anos ela supôs ser pai do menino nascido em julho de 1986, na Santa Casa de Misericórdia de Vitória, têm laços sanguíneos com ele.

Revelações

A história de X. começou em 2000, quando ela buscou a Justiça para obter uma pensão para o filho, não reconhecido pelo pai, um policial capixaba. O casal namorou, morando em casas separadas, durante três anos, mas poucos meses após a criança ter nascido, ela diz que o relacionamento acabou.

"Eu gostava dele, mas ele bebia muito, ficava agressivo", conta a mulher. Durante anos, X. disse ao filho que seu pai havia morrido, na tentativa de evitar que o menino sofresse em decorrência da rejeição paterna.

Só cinco anos após ter requerido a pensão alimentícia, ela diz que foi feito um primeiro exame de DNA, que revelou que o menino não era filho do casal.

Preocupada, mas desconfiando da veracidade de tal revelação, X. diz que procurou a polícia - teria registrado o fato na Delegacia do Centro - e a Defensoria Pública. "Ninguém me deu ouvidos. Diziam que era preciso uma contraprova do exame, mas ficou tudo por isso mesmo", afirma.

No ano passado, chamada para ser ouvida num inquérito que tramitava há anos sobre o assassinato de um outro filho dela, X. disse ter comentado sobre o caso, de novo, na polícia, que a teria encaminhado a um outro exame de DNA na própria instituição.

Esse exame também atestou: o hoje rapaz de 24 anos não era filho de X. e do homem de quem ela garante ter engravidado.

Orientada por A GAZETA, a quem procurou, X. e o filho submeteram-se a novo teste de DNA, requerido pela promotoria, cujo resultado foi revelado à mulher há poucos dias.

"Antes achava que haviam manipulado o resultado. É que o pai é policial... Agora não tenho dúvida. Mas sei que tive um bebê, e sei também que amo o filho que eu crio. Quero saber agora onde está o outro", diz ela.

Lista de nascidos é solicitada a hospital

A promotora pública estadual Arlinda Monjardim faz questão de afirmar que não há, ainda, prova de que houve troca de bebês, mas diante do resultado do exame de DNA, encaminhou um ofício à Santa Casa de Misericórdia de Vitória.

Ela quer que o hospital forneça a relação de todas as crianças que nasceram na unidade no dia 3 de julho de 1986, data em que a comerciária X. afirma ter nascido seu filho.

A mulher diz que o nascimento aconteceu por volta das 20 horas, mas a promotora explica que na certidão consta 8 horas. X., segundo Arlinda Monjardim, não teria sabido informar se, na sala de parto, naquele dia, alguém teria lhe dito o sexo do bebê.

Arlinda Monjardim não nega que trata-se de um caso complexo. "Vinte e quatro anos depois do nascimento, as pessoas podem ter mudado de endereço", diz ela, numa referência às buscas para que seja investigada a possível troca de crianças na maternidade.

Uma vez identificadas, as pessoas que nasceram no mesmo dia de julho de 1986, na Santa Casa, terão que colher amostras de sangue para exames de DNA, assim como seus pais.

Caso seja constatada a troca de bebês na maternidade, a polícia será acionada para apurar se o crime foi doloso (intencional) ou culposo.

Junho de 2010.
A doméstica Claudete Neira de Castro, 27 anos, mãe de quatro filhos, descobriu, com a ajuda do Ministério Público, que o mais novo, de dois anos e dois meses, não é seu. O pai dizia que o menino não era dele, e a mulher, então, decidiu pedir a investigação da paternidade, com o exame de DNA. Com o resultado ficou provado que a criança não era filha do casal. A troca de bebês aconteceu na Pró-Matre, em Vitória. A outra criança, que nasceu com uma diferença de dois minutos do filho de Claudete, foi localizada.

2009.
No dia 17 de outubro nasceram, em Santa Teresa, Região de Montanha do Espírito Santo, Dimas José Aliprandi e Helton Plaster. Eles foram trocados no antigo Hospital Mãe do Bom Conselho, hoje Hospital Madre Regina Protmann. Exames de DNA, em 2009, confirmaram a troca. Foi o próprio Dimas quem tomou a iniciativa de fazer o primeiro, já que não se parecia com os pais e irmãos. Hoje as duas famílias moram na mesma propriedade rural de Santa Maria de Jetibá.

Março de 2008.
Dois bebês foram trocados no Hospital e Maternidade Santa Lucia, em Goiânia. Um ano e meio após o equívoco, houve a destroca. Três técnicas de Enfermagem, funcionárias da maternidade, foram responsabilizadas.

Julho de 2004.
Em Sorocaba, São Paulo, dois bebês foram trocados na Maternidade da Santa Casa de Votorantim. Os pais não quiseram desfazer a troca das crianças

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