Você pode nem perceber, mas, ao longo do dia, é exposto a barulho suficiente para causar perdas na audição a longo prazo. Uma pesquisa feita pelo Laboratório de Dinâmica da Ufes mostrou que o chamado ruído social - aquele com o qual nos deparamos no dia a dia, como trânsito e até conversas no ambiente de trabalho - está causando prejuízos para a audição.
E trabalhar em um escritório não livra você dos perigos do excesso de barulho. "De forma geral, estamos todos expostos a mais barulho do que o recomendável, que é uma média de 70 decibéis num período de 24 horas. Num escritório, a média é 65 decibéis, mas as pessoas saem de lá e enfrentam o barulho do trânsito, ou, até no momento de lazer, se expõem em excesso", alerta o coordenador da pesquisa, Guilherme Laux, engenheiro mecânico com mestrado em ruídos e vibrações.
O estudo avaliou as perdas auditivas de três grupos: operários, funcionários administrativos e trabalhadores rurais. "Mesmo usando os aparelhos de proteção, operários ficam mais expostos, pois o limite estipulado por lei é 80 decibéis por 8 horas, o que dá muito mais de 70 decibéis em um dia. A legislação não é suficiente para proteger esses trabalhadores", defende Laux.
Mas morar no campo pode ajudar a preservar a saúde dos ouvidos. Em média, funcionários administrativos tiveram o dobro de perda auditiva dos trabalhadores rurais. "Percebemos que o lazer dos funcionários administrativos é mais barulhento do que o dos demais, o que, junto com o ruído causado pelo trânsito, contribui para esse quadro", explica o professor.
O curioso é que o grupo de operários procurava momentos de lazer mais silenciosos do que os funcionários administrativos. "Em meia hora, o barulho de uma boate, de 110 decibéis, causa um dano muito forte, mesmo em quem trabalha no escritório", ressalta Laux.
Para o professor, a legislação deveria ser mais rígida. "O limite de 55 decibéis durante o dia é capaz de proporcionar conforto, mas não proteção suficiente para impedir danos à capacidade auditiva", aponta.
Ele lembra que muitos aparelhos usados no dia a dia, ultrapassam, e muito esse limite, sem regulamentação.
O impacto
Até 55 decibéis.
Nível de conforto, segundo a OMS. Equivale a uma rua sem tráfego, e é o limite máximo nas zonas residenciais de Vitória durante o dia
55 a 65 decibéis.
O organismo começa a reagir. Diminui a concentração, a produtividade e dá dor de cabeça, cansaço e eleva a pressão arterial. Uma conversa a um metro de distância equivale a 60 decibéis
65 a 70 decibéis.
O organismo começa a agir para se adaptar ao ambiente. É quando as defesas do corpo são abaladas. Esse é o limite, em Vitória, durante a noite, nas zonas industriais e aeroportuárias
Acima de 70 decibéis.
Nível inicial de desgaste do organismo. Surge estresse, que abre a porta para problemas como infecções e hipertensão. Equivalente a uma rua de tráfego pesado
80 a 85 decibéis.
Faixa de tolerância no ambiente de trabalho. A partir disso é preciso ter equipamentos de segurança e podem surgir problemas auditivos
Acima de 85 decibéis.
Riscos sérios. Numa boate, com 110 decibéis, o máximo de exposição deve ser 30 minutos
A que você se expõe:
Secador de cabelo.
Um pequeno pode chegar a 91,1 decibéis. Os maiores podem atingir 100 decibéis
Avião.
Na pista, com o motor ligado, são 116 decibéis
Avião no ar.
Perto de aterrisar, são 78 decibéis, com picos que podem chegar a 85
Sinaleira.
É aquele sinal sonoro que identifica a saída dos carros da garagem. Pode alcançar até 69,1 decibéis
Preso no trânsito.
O barulho dentro do carro, com vidros fechados, pode chegar a 66,6 decibéis
Moto.
Uma arrancada chega a 97 decibéis
Restaurante.
Entre conversas e televisão ligada podem ser 84 decibéis
Mar.
Você quase não percebe, mas as ondas podem gerar som de até 48 decibéis
Alarme de carro.
Pode chegar a 81,6 decibéis
Fontes: Organização Mundial de
Saúde (OMS) e estudo feito por Guilherme Lau
Por A GAZETA (Elaine Vieira)
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