segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Tropa de elite da Amazônia é suspeita de executar homem


O que era para ser uma operação de busca e apreensão terminou com a morte de um homem, em casa, diante da própria família. 

Ele estava sendo investigado por suspeita de envolvimento com uma rede de pedofilia. Os policiais da tropa de elite do Amazonas, responsáveis pela ação, dizem que o homem tentou reagir. A reportagem é de Marcelo Canellas.


“Pagar o salário desse pessoal que era pra nos proteger e nos resguardar e vão lá e tiram a vida do meu irmão”, desabafa Fabio Araujo Pontes, irmão da vítima.

“Qual o motivo que leva a pessoa executar um pai de família na vista dos filhos e da mulher?”, se pergunta Antônio Ferreira Pontes, pai da vítima.

Fernando Pontes tinha 25 anos. Filho do meio de uma família de comerciantes de Presidente Figueiredo, a 107 quilômetros de Manaus, ele foi morto dentro de casa, com cinco tiros a queima roupa, por policiais da Fera, a força de elite da Polícia civil do Amazonas.

A ação era parte de uma investigação sobre uma rede de pedofilia e exploração sexual de adolescentes que teria ramificações na cidade.

Não havia um mandado de prisão contra Fernando Pontes. O que a juíza da cidade expediu foi um mandado de busca e apreensão para que a polícia encontrasse documentos e material pornográfico que supostamente comprovariam o envolvimento dele com o crime de pedofilia. Com a ressalva de que se tratava de uma investigação e com a recomendação para que os policiais não expusessem as pessoas a vexame.

Foi no dia 12 de maio. A operação foi filmada por um funcionário do Ministério Público.

O promotor Ronaldo Andrade, que aparece no vídeo com um papel na mão, vestindo colete da polícia, acompanhou tudo. Os policiais arrombam a porta da garagem. “Polícia! Ministério Público”.

Depois entram pela sala e param em frente ao quarto. “Não demora, não demora. Deixa a esposa e as crianças aí. Sai com a mão na cabeça!”.

O empresário abre a porta e levanta as mãos. Ele tropeça, cai na cama e levanta novamente com as duas mãos na cabeça. Depois é empurrado e cai na cama de novo. Ouve-se o choro dos dois filhos pequenos, que fogem para o banheiro do quarto. Em seguida, cinco tiros.

Uma policial reclama que as crianças estão no quarto. “Tem criança no quarto”.

Há um corte na filmagem. Depois um revólver calibre 32 aparece na cama. Segundo os policiais, estaria com Fernando, o que é negado pela família.

“Eles entraram aqui na minha casa com promotores, com delegados, com polícias especializadas, e por que eles fizeram isso?”, indaga Arianna de Lima Alencar, viúva de Fernando.

O Conselho Superior do Ministério Público do Amazonas considera que houve abuso na ação policial e determinou a instauração de um processo administrativo para apurar a conduta do promotor Ronaldo Andrade.

Por telefone, ele disse não saber se houve uma execução ou não, mas diz que a operação fugiu do padrão normal.


Fantástico - “O senhor acha que houve excesso então?

Promotor - É, eu acho que houve, nesse caso, excesso.

Fantástico - E a acusação de que o senhor teria acobertado a ação da polícia, e que teria sido conivente e omisso?

Promotor - Olha, veja bem, isso não se coaduna com as minhas atitudes logo depois do fato. E a filmagem da diligência foi feita por iniciativa minha, usando uma câmera particular, e esse vídeo foi, tão logo nós chegamos a Manaus, foi gravado em DVD e entregue aos meus superiores hierárquicos para que fossem apuradas as circunstâncias do fato. Isso derruba qualquer ilação, qualquer pensamento de que eu tenha tentado proteger os policiais.

Os dois policiais acusados pela autoria dos disparos já estão presos: Natan Alves de Andrade e Melquesedeque Sarah de Lima Galvão.

Outros dois também foram denunciados: Hemetério Pirangy da Silva Júnior e Lucas Mendes Silva.

O Sindicato dos Policiais veio em defesa dos acusados dizendo que o empresário reagiu. “O fato é que ele se jogou para a cama onde tentou pegar uma arma que estava debaixo do travesseiro. Ao pegar a arma os policiais reagiram em legítima defesa”, explica Renato Damasceno Bessa, presidente interino do SINPOL - AM

Para o corregedor da Polícia civil, o que houve foi uma execução. “Não há dúvida de que aquela vítima não estava armada e, portanto, ela foi assassinada”, afirma Alberto Ramires, corregedor auxiliar.

Fantástico - A primeira vez em que a câmera foca a cama não há arma nenhuma ali. Depois, num outro momento, a arma já está. E há um momento em que o policial faz um movimento em direção à cama. Não aparece ele colocando a arma, mas aparece com uma arma na mão. É aquela arma?

Alberto Ramires - Sim, sem dúvida. O laudo da Polícia federal deixou claro que aquela arma foi plantada. Foi plantada pra quê? Pra justificar as alegações de legítima defesa, que a vítima teria reagido, quando ela não reagiu.

A polícia recolheu documentos na casa de Fernando. Mas não ainda não divulgou o conteúdo do material. Para o corregedor, a operação policial foi uma sucessão de ilegalidades e crimes.

“O auto de resistência forjado, falso, é falsidade ideológica. Usaram esse documento falso, logo: outro crime de uso de documento falso. E o porte ilegal daquela arma que eles tinham. Estavam portando uma arma fria”, diz o corregedor.

O Ministério Público também quer apurar a responsabilidade dos dois delegados que estavam em Presidente Figueiredo no dia da operação, Fábio Martins Silva e Caio César Nunes, filho do delegado geral de polícia do Amazonas, Mário Cesar Nunes.

A delegacia geral recomendou aos delegados que não dessem entrevista. E também não quis se manifestar alegando que o processo corre em segredo de Justiça. Para o promotor responsável pela denúncia, não há dúvida sobre o que ocorreu.

“Você vendo a fita você chega a essa conclusão de que realmente houve uma execução ali”, afirma Leonardo Abinader Nobre, promotor de Justiça.

“É isso que o Ministério Público irá procurar, irá investigar, irá correr atrás, e tentar provar, e tentar achar o motivo desse crime. O porque que o Fernando foi executado”, diz Leonardo Abinader.

“Quando eu penso nele eu só choro, só choro e peço a Deus que e justiça seja feita”, declara Maria do Socorro Araujo, mãe de Fernando.

Do Site do Fantástico

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