sábado, 7 de agosto de 2010

Gravidez aos 40 anos está mais comum

Mulheres têm adiado a maternidade por questões profissionais, financeiras ou até mesmo afetivas
Por Andrea Franco ( O Estado - RJ)
O adiamento da gravidez é uma opção muito comum entre as mulheres nos dias de hoje. Pelos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 1997 a 2006, o número de bebês de mulheres com mais de 35 anos cresceu 34%. Esse número representa uma tendência atual: principalmente por causa da carreira, as mulheres estão adiando o sonho de ser mãe. A gravidez aos 40 anos inspira muitos cuidados, e os médicos advertem quanto aos riscos da gravidez tardia.

Assim como em outros países, no Brasil, a gravidez após os 35 anos, idade considerada um divisor de águas no que se refere à capacidade reprodutiva da mulher, é um fenômeno crescente. O número de grávidas ou mulheres tentando engravidar na faixa entre 30 e 40 anos aumentou nos últimos anos. Pelo menos 20% das mulheres aguardam até os 35 anos para iniciar uma família. São muitos os fatores que estão em jogo na decisão de adiar a maternidade: estabilidade profissional, a expectativa por uma relação estável, segurança financeira e até a incerteza sobre o desejo de ser mãe.

De acordo com a psicoterapeuta Fernanda de Alvarenga Peixoto, o desejo de ser mãe não aparece de repente, só por conta da idade cronológica. “A mulher que sente o desejo de ser mãe aos 40 anos já tinha essa vontade guardada no seu subconsciente e, com a proximidade das limitações biológicas, tem esse desejo despertado. Muitas vezes ela opta por desenvolver primeiro uma carreira profissional de sucesso, e deixa para pensar na maternidade quando a situação biológica já não pode mais ser adiada; aí a vontade aflora”, explica Fernanda.

A publicitária Antônia Papaleo, de 53 anos, descobriu aos 41 que estava grávida. Quatro anos depois, o ciclo menstrual foi novamente interrompido. Ela achou que era a menopausa, mas era a gravidez do segundo filho. “Durante os 25 anos que estive casada e sem filhos pude viajar, sair, curtir a vida. Hoje, sou mãe do João Pedro e do Lucas, e posso passar ensinamentos com mais maturidade”, diz. “Já me chamaram de avó do João Pedro. Eu disse: ‘É meu filho, com orgulho´”, completa Antônia.

A médica, Ana Cristina Duarte, faz parte de um grupo representativo de mulheres que, no auge da carreira profissional e da vida amorosa, decidiram realizar o tão desejado e adiado sonho da maternidade. Depois de terminar a faculdade de medicina, ela emendou a especialização, seguida por mestrado. Hoje, ocupa cargo de diretoria em uma empresa na área de saúde e, aos 42 anos é mãe de gêmeos de um ano e meio. “Era o meu momento certo para ser mãe”, comenta Ana, que tentou engravidar de forma natural durante dois anos. Aos 38, procurou a clínica de reprodução assistida Promulher, em São Paulo. “Só na quinta vez tive o resultado positivo”, relata.

Num estudo científico, em que são estudadas mulheres grávidas em várias faixas de idade, os resultados apontam que, quanto mais velha a mulher, maior a chance de complicações. “Se uma mulher teve uma gestação saudável aos 40 anos, não quer dizer que todas as gestações nessa idade sejam saudáveis”, explica o ginecologista José Bento de Sousa. Ainda de acordo com o médico, a gravidez depois dos 40 anos pode trazer complicações como hipertensão arterial, diabetes, placenta prévia, deslocamento prematuro de placenta e trabalho de parto prematuro.

Porém, o especialista revela que com os avanços da medicina atual, a mulher tem muito mais segurança. “Com uma boa assistência, com um bom acompanhamento pré-natal, as chances de sucesso são maiores. A medicina está bastante avançada no sentido de diagnóstico precoce, principalmente ao longo do pré-natal, para rastreamento de doenças genéticas”, afirma o Dr. José Bento.

Cuidados para uma boa gestação

A maioria das mulheres que adiam a maternidade para os 40 anos deve estar bem consciente de que é uma gravidez de risco, e precisam seguir com rigor as orientações do obstetra com relação a consultas, exames complementares e alimentação. Para a mulher que decidiu ter o seu primeiro filho nessa idade, a primeira coisa a fazer é consultar o seu ginecologista três meses antes de engravidar.

Fazer exames de sangue, urina e fezes e, encontrando alguma alteração, tratar. Começar a tomar ácido fólico para evitar má-formação do tubo neural do bebê. Encontrar o peso ideal para melhorar a qualidade da gestação. Se estiver magra demais, engordar, e se estiver gordinha, emagrecer. As consultas do pré-natal devem ser rigorosamente a cada quatro semanas, no mínimo, e deve-se fazer pelo menos três exames de ultra-som durante a gestação. “A mulher que planeja ter um bebê a esta altura da vida deve fazer um rastreamento das condições físicas e de todas as possíveis patologias antes de engravidar. Um mioma que não apresenta sintomas, por exemplo, pode atrapalhar a gestação e até provocar um aborto espontâneo”, explica o ginecologista e obstetra Luiz Paulo C. Mário.

A atividade física, se não houver nenhuma contra-indicação, deve ser realizada durante toda a gestação de forma moderada. “Para essas mulheres, recomenda-se um pré-natal minucioso e utilizar todos os recursos diagnósticos possíveis, como teste triplo, amniocentese, além de fazer um bom controle nutricional e de ganho de peso; enfim, ter o acompanhamento de uma gestação de risco, com seriedade e maturidade, pois estamos lidando com duas vidas. E o principal é a paciente estar sabendo das complicações que podem advir na gestação aos 40 anos para podermos evitá-las”, afirma a ginecologista Patrícia Magier.

A chance de uma mulher ter um filho com alguma síndrome genética (a síndrome de Down é a mais frequente) aumenta conforme sua idade. As mulheres com 40 anos têm uma chance de aproximadamente 1 em 120, e numa mulher de 20 anos é muito menor, mas isso não quer dizer que a mãe mais jovem não possa ter um filho com problemas. “Há muito mais mães jovens com filhos portadores de síndrome de Down do que mães mais velhas; isso acontece porque estas últimas ficam mais atentas ao problema e fazem vários exames que detectam as alterações”, explica o Dr. José Bento.

De acordo com os médicos Abner Lobão Neto, coordenador do Pré-natal Personalizado da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Venina Viana de Barros, médica do Hospital das Clínicas de São Paulo, uma mulher na faixa dos 35 a 40 anos tem 12% de chance de engravidar. E, acima dos 40 anos, cai para 8%. Segundo os médicos, a partir dos 35 anos as mulheres começam a sofrer uma espécie de contagem regressiva. Com as alterações hormonais, aumentam as chances de ocorrer doenças como diabetes e hipertensão, caso a mulher possua predisposição genética ou histórico familiar.

O excesso de peso também favorece a manifestação de enfermidades, principalmente se associado a uma vida sem cuidados básicos com a saúde. A mulher deve fazer um check-up rigoroso, para identificar doenças, e atualizar vacinas, como contra rubéola e hepatite. A mulher que planeja uma gravidez na maturidade deve ter uma dieta equilibrada, praticar exercícios físicos regularmente, ir a consultas médicas frequentes. Não fumar e não ingerir álcool. Se a gravidez tardia for bem monitorada e a mulher seguir as orientações, terá o mesmo sucesso de uma mulher mais nova.

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