Sem condições de uso, aposentado já encomendou nova urna funerária.
Maranhense também comprou calça e paletó que quer usar em velório.
Leocádio Rodrigues de Lima, de 111 anos |
"Comprei o caixão para poder ficar dentro quando eu morrer", disse o aposentado, que pagou R$ 950 pela urna funerária guardada num barraco no quintal da casa onde mora. O caixão divide espaço com telhas, caixas e madeiras.
De acordo com a aposentada Maria Lúcia Cardoso, que toma conta de Lima, o caixão está tão velho que não poderá mais ser usado. Ela disse que o maranhense chegou a "provar" o caixão várias vezes na época da compra.
Apesar de estar se preparando para a morte há pelo menos nove anos, Lima diz ainda ter planos de vida. "Quero ter meia dúzia de namoradas e mais uns quatro filhos", afirmou.
A mais velha dos dois filhos vivos de Lima, Isabel da Rocha, de 83 anos, disse que o pai chegou a Brasília em 1957, antes da inauguração da cidade. Ele começou trabalhando com a derrubada de árvores na área que hoje é ocupada pelo Lago Paranoá, criado artificialmente no período da construção da nova capital federal.
"Quando vim para Brasília eu fazia todo o desmatamento do lugar onde fica aquele lago. Tirava a madeira que depois era levada para a Novacap [Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil]. Depois, fiz tijolos", disse Lima.
Desejos
Apesar do estado de saúde estável e de nunca ter tido problemas cardíacos, Lima não enxerga nem ouve bem e sofre de um problema na próstata que o obriga a usar uma sonda para urinar.
Apesar do estado de saúde estável e de nunca ter tido problemas cardíacos, Lima não enxerga nem ouve bem e sofre de um problema na próstata que o obriga a usar uma sonda para urinar.
Há dois anos ele deixou de andar sozinho. As caminhadas entre os cinco cômodos da casa e em direção ao quintal são feitas com a ajuda de Maria Lúcia. A filha Isabel só consegue mover o pai quando ele é colocado numa cadeira de rodas, doada. "Tenho fé que ainda volto a caminhar sozinho, com os poderes de Deus", disse Lima.
Leocádio Rodrigues de Lima, de 111 anos, ao lado da roupa que quer usar no próprio velório (Foto: Felipe Néri/G1) |
Segundo Maria Lúcia, o aposentado sofre com a saudade das duas mulheres que teve. A primeira, mãe de Isabel e do outro filho dele, de 73 anos e que mora em Tocantins, morreu em 1975. "Às vezes, ele olha para a foto dela e pergunta quando ela vem buscá-lo", disse Maria Lúcia.
A segunda mulher, com quem Leocádio viveu por 33 anos após ficar viúvo, causa mau humor no aposentado quando seu nome é mencionado. Ela foi levada pelos filhos para morar com uma neta no Gama, a cerca de 40 quilômetros de Santo Antônio do Descoberto, depois que Isabel começou a sentir dificuldade para cuidar do pai e da madrasta.
"Não dava mais conta de cuidar dos dois. Pedi para os filhos dela pagarem alguém para cuidar dela, mas eles preferiram levá-la", disse a filha de Lima. Isabel afirma não querer viver tanto quanto o pai. "Não quero chegar aos 111 anos. Isso dá muito trabalho para os outros", afirmou a mulher, que também tem a audição debilitada.
O bisneto mais velho do aposentado, o servidor público Gleidimar Ferreira, de 44 anos, espera que o bisavô alcance um recorde. "Cada vez torço para ele fazer mais anos e chegar ao livro Guinness como o mais velho do mundo." De acordo com o livro dos recordes, o homem mais velho vivo no mundo é o japonês Jiroemon Kimura, que completou 115 anos em abril de 2012.
Apesar de já estar preparado para o enterro, Lima diz não ter pressa. "Quantos anos eu quero viver? Vou viver o que Deus me der. Quanto mais, melhor. Para onde ele me levar, eu vou. Ele deve saber para onde eu vou." (G1)
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