segunda-feira, 1 de novembro de 2010

De guerrilheira a "mãe do PAC": a história da 1ª presidenta do país

Dilma Roussef (PT), a presidente eleita neste domingo para suceder o seu mentor (ou autor) político, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), já foi dona de muitos outros nomes - na realidade, "nomes de guerra" que ela adotava para despistar a repressão da ditadura militar, enquanto se batia em organizações da resistência armada. Foi Luísa, Estela, Maria Lúcia, Patrícia, Marina e Wanda. Acabou presa, torturada e anistiada anos depois.

Apesar de nunca antes ter disputado um cargo eletivo, a ex-chefe da Casa Civil respondeu por outros cargos administrativos antes de chegar ao governo. Então filiada ao PDT, foi secretária em governos petistas em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul - Estado em que a mineira se radicou -, até a famosa reunião, no fim de 2002. Recém-eleito para o primeiro mandato no Palácio do Planalto, o presidente formava a sua equipe de transição e, após conversa de gabinete com Dilma, teria saído dali convencido de que encontrara a sua ministra de Minas e Energia.

Três anos mais tarde, na crista da tsunami que se abateu sobre o governo quando o "homem-bomba" Roberto Jefferson (PTB) denunciou o escândalo do mensalão, a ministra foi promovida ao segundo posto na hierarquia do Planalto, substituindo o até então todo-poderoso José Dirceu (PT) no comando da Casa Civil. Prisão, tortura, cargos estratégicos no governo. Nada que se compare ao desafio que tem agora pela frente: ser a primeira mulher a governar o Brasil em 510 anos de história.

Origem Dilma Vana Rousseff nasceu em 14 de dezembro de 1947, em Belo Horizonte (MG), filha do advogado e empreendedor búlgaro naturalizado brasileiro Pedro Rousseff e da dona de casa Dilma Jane Silva. O casal de classe média teve outros dois filhos - Igor e Zana Lúcia - e educou os filhos de modo tradicional.

Em 1964 (ano do Golpe Militar), ainda fazendo o curso clássico em uma escola pública de BH, Dilma ingressou na militância política. Enquanto iniciava os estudos de Economia, entrou para várias organizações clandestinas de esquerda que defendiam a luta armada como caminho para a implantação do socialismo no Brasil, entre elas a Política Operária (Polop), o Comando de Libertação Nacional (Colina) e a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), da qual foi co-fundadora e cujo expoente era o Capitão Carlos Lamarca. Foi nessa época que conheceu seu primeiro marido, o jornalista e também guerrilheiro Cláudio Linhares.

Guerrilha
Há controvérsias se de fato chegou a "pegar em armas" em operações da guerrilha. Fato é que, segundo relatos e documentos da época, ela sempre era descrita como membro eminente da organização. Chegou a ser definida como "um dos cérebros" dos esquemas revolucionários em relatórios da repressão e foi chamada de "Joana D'Arc da subversão" pelo promotor que denunciou a Var-Palmares.



Em janeiro de 1970, foi presa e, durante vinte e dois dias, submetida a torturas que incluíram palmatória, pau-de-arara e choques elétricos. Cumpriu três anos de prisão e teve os direitos políticos cassados por dezoito anos. Libertada em 1973, fixou-se em Porto Alegre, onde cumpria pena seu segundo marido, Carlos Franklin de Araújo, com quem Dilma teve sua única filha, Paula Rousseff Araújo, e de quem se divorciou no ano 2000.

Punida por subversão de acordo com o Decreto-lei 477, a estudante foi expulsa da UFMG, o que a levou a prestar vestibular para a UFRGS em 1973, onde formou-se em 1977. Em dezembro de 2006, a Comissão Especial de Reparação da Secretaria de Direitos Humanos do Rio de Janeiro - Estado onde foi interrogada - aprovou uma indenização por parte de Dilma, no valor de R$ 20 mil.

PDT
Ao contrário do que acreditam até mesmo militantes do partido, Dilma pode ser considerada uma neopetista. Historicamente, ela está muito mais vinculada ao Partido Democrático Trabalhista (PDT) de Leonel Brizola. No início dos anos 1980, com a redemocratização do país, Dilma ajudou a fundar o PDT. Só viria a transferir-se para o PT em 2001, às vésperas da primeira eleição presidencial vencida por Lula, em função de divergências entre os dois partidos no Rio Grande do Sul.

Nos anos 1980, Dilma iniciou sua trajetória como técnica na gestão pública, vindo a ocupar posições de comando na Prefeitura de Porto Alegre e no governo do Rio Grande do Sul. Foi secretária da Fazenda da capital gaúcha na administração do também pedetista Alceu Collares (1986/1990). Depois, foi secretária estadual de Minas e Energia, novamente sob o comando de Collares (1991/1994), e também na administração do petista Olívio Dutra (1999/2002).

Em meados de 2001, a então secretária foi convidada a compor a equipe coordenada pelo físico e engenheiro nuclear Luiz Pinguelli Rosa, responsável pelo programa de governo de Lula (então pré-candidato à Presidência) na área de minas e energia. Depois da vitória do ex-metalúrgico, em 2002, Dilma teve um papel-chave no processo de transição de governo. Logo nos primeiros dias de mandato, Lula surpreendeu ao nomeá-la ministra de Minas e Energia, quando todos esperavam que o escolhido seria Pinguelli.

Temperamento
Sua gestão no ministério também foi marcada por episódios em que se desentendeu publicamente com colegas do alto escalão. Manteve divergências com Pinguelli, nomeado presidente da Eletrobrás, que defendia um modelo mais estatizante, enquanto Dilma havia implantado um modelo mais aberto à iniciativa privada. Segundo o folclore que circula nos bastidores do Planalto, a ministra teria levado às lágrimas o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, ao lhe dar uma reprimenda por telefone.

No entanto, o mais notório conflito interno daquela que na campanha adotaria a imagem "paz e amor" foi com a então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Desde o Ministério de Minas e Energia, Dilma defendia a aceleração de obras como usinas para a geração de energia, a fim de evitar a repetição de um "apagão" como o ocorrido no governo FHC, ao passo que Marina defendia o embargo de algumas obras que não cumpririam as exigências da legislação ambiental. O cabo de guerra, claramente mais fraco no lado de Marina, levou a ex-seringueira a deixar o governo e o PT, filiando-se ao PV e disputando a eleição presidencial.

Candidatura
No início de 2007, o presidente a designou para gerenciar o Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, ampliando o seu status de "superministra". Foi quando ela passou a ser apelidada de "Mãe do PAC" e também quando, pode-se dizer, deu o primeiro passo rumo à eleição presidencial, com um grande empurrão de Lula. Dada a queda de Dirceu e do ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci (PT), devido a escândalos que marcaram o primeiro mandato, Lula carecia de quadros dentro do PT para preparar um sucessor.

Por mais que os dois desmentissem qualquer conversa sobre sucessão, Lula deu início, já em 2007, a uma campanha de superexposição da provável candidata. A até então técnica descrita como dura e fria, habituada à burocracia dos gabinetes, passou a percorrer todo o Brasil - inclusive o Espírito Santo - junto com o presidente, para participar da inauguração de obras que, em alguns casos, nem haviam começado. A maratona só foi interrompida em abril de 2009, quando, num exame de rotina, foi diagnosticado um linfoma em fase inicial em sua axila esquerda. A ministra então se entregou a um desgastante tratamento, até que, em setembro daquele ano, declarou-se curada do câncer no sistema linfático.

Além das sessões de quimioterapia e radioterapia, a potencial candidata passou por um intensivo "tratamento de imagem" (veja fotos). Sob os cuidados dos marqueteiros, sua aparência foi toda reconfigurada, e a "dama de ferro" que exibia cabelos laqueados e óculos "fundo de garrafa" deu lugar à candidata mais simpática e ao gosto do eleitorado.


Fonte: A Gazeta

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