segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Jovens com acne têm mais ideias suicidas, diz estudo

A acne afeta glândulas no rosto que produzem gordura. Resulta em manchas, espinhas e inflamação, além do risco de cicatrizes

Cara de Chokito, rei da bereba, casca de abacaxi. Adolescentes podem ser cruéis quando resolvem "zoar" com o amigo que tem muita acne.

Um estudo feito com milhares deles na Noruega mostra que esse "bullying" pode ser perigoso. Os pesquisadores encontraram uma nítida associação entre muita acne e pensamentos de suicídio.

Os resultados podem inocentar a droga isotretinoína, cujo uso contra acne severa já foi associado ao aumento de depressão e tendências suicidas em adolescentes.

"Eventos adversos incluindo ideação de suicídio que foram associados com terapias para acne podem refletir o fardo de ter muita acne em vez dos efeitos da medicação", escreveram os autores na revista "Journal of Investigative Dermatology".

"Ideação de suicídio", lembram os autores, é um termo médico que significa "qualquer pensamento reportado pela pessoa de comportamento suicida" e está associada a planos e tentativas. Inclui já uma "arquitetura" de um possível suicídio, sendo um passo além de meramente refletir a respeito.

A equipe de Jon Anders Halvorsen, da Universidade de Oslo, Noruega, enviou questionários a jovens de 18 e 19 anos. Quase um em cada quatro adolescentes com muita acne reportou ideação de suicídio. Em garotas com muita acne, a prevalência de ideação de suicídio foi mais do que o dobro do que entre aquelas com nenhuma ou pouca acne e, entre os garotos, foi três vezes mais alta.

A acne é um problema de pele comum entre adolescentes; quase todos podem ter alguma forma dessa doença inflamatória. Os casos mais severos atingem entre 10% e 20% dos "teens".

A acne afeta glândulas no rosto que produzem gordura. Resulta em manchas, espinhas e inflamação, além do risco de cicatrizes.

Para Halvorsen, a possibilidade de que a depressão venha da doença e não da droga pode auxiliar os dermatologistas que relutam em receitar isotretinoína.

"Há remédios disponíveis nas farmácias que podem ser tentados primeiro. Para aqueles com acne suave, isso é em geral OK", disse Halvorsen à Folha. "Há muitas opções de tratamento e todos podem melhorar da acne com o tratamento correto", acrescenta o pesquisador.

Ele dá um conselho a adolescentes e pais: "Não esperem muito para entrar em contato com o médico ou dermatologista, pois a acne pode causar cicatrizes difíceis de tratar".

O demartologista Marcelo Arnone, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, diz que nunca teve problemas em usar a isotretinoína: "Na minha experiência pessoal, e tenho uma grande casuística, não tive nenhum caso de depressão".

Os estudos ligando a droga à depressão são só "relatos de casos", diz ele. "Há a suspeita, mas é um nível muito baixo de evidência, de acordo com a medicina baseada em evidências", diz Arnone.

O ideal seria fazer um estudo controlado de uso da droga em jovens, afirma Arnone.

Ele lembra que doenças que comprometem a imagem causam impactos psicológicos e sociais fortes, "ainda mais em adolescentes".

VIDA SOCIAL

A adolescência é um momento delicado, quando o indivíduo se torna mais autônomo, muda o relacionamento com família e pares, e quando podem surgir relacionamentos duradouros.

Segundo Arnone, o adolescente com muita acne tende a diminuir suas atividades sociais -deixa de frequentar clubes, festas, até a escola.

O estudo também vinculou a acne a pior desempenho escolar, falta de namorado e não ter feito sexo.

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