domingo, 20 de março de 2011

Obesidade. Excesso de peso impacta o organismo, provocando consequências até irreversíveis

Excesso de peso impacta o organismo, provocando consequências até irreversíveis

Março começou com uma boa notícia para quem está acima do peso. Pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, reduziram a função de uma proteína em ratos obesos com elevados níveis de açúcar no sangue e ajudaram os animais a emagrecer. A recente descoberta pode levar, no futuro, a uma nova classe de medicamentos para combater a obesidade e consequentemente o diabetes tipo 2. Mas será que dá tempo de esperar?

Não. O excesso de peso é responsável por impactos generalizados no organismo, atuando como fator de risco e complicador de doenças graves. O fator genético também pode contribuir para os problemas, e como não se sabe quais são, não se pode jogar com a sorte. Segundo o endocrinologista Saulo Cavancanti, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, é difícil achar uma parte do corpo que não tenha prejuízo em decorrência do excesso de peso. “É por isso que o obeso perde em qualidade e em quantidade de vida, vivendo menos que o não gordo.”

Muitas dessas consequências são reversíveis ou atenuadas com a perda de gordura corporal. Outras, já instaladas, não andam para trás. Enquanto isso, os especialistas são taxativos: é preciso nadar contra a corrente para evitar, atenuar e mesmo conter a progressão de tantos males. Providências, entretanto, são mais eficientes quanto mais cedo forem tomadas.

Daí a preocupação com a obesidade infantil, que cresce de forma avassaladora nos últimos anos. Segundo Saulo Cavalcanti, os efeitos do ganho de peso em uma pessoa com 70 anos são graves, porém distintos dos efeitos em um menino de 9 anos. No mais velho, o tempo de ação dessas consequências será bem menor que no garoto, que já na adolescência pode estar convivendo com problemas de saúde, embora o idoso possa ter, concomitantemente, várias outras doenças que também podem ser prejudicadas pelo aumento de peso.

De acordo com o especialista, quanto maior o excesso de peso e o tempo que se está nessa situação mais prejudicial é a situação para o organismo. “É preciso acabar com essa ideia de que gordo é saudável. O excesso de peso, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) é uma doença e induz várias outras complicações. Além disso, é uma doença covarde porque contra ela a sociedade não toma uma medida radical.”

O mais grave erro, entretanto, é tratar as consequências do excesso de peso e não se livrar dele.“ Não adianta tomar Novalgina para sapato apertado. O paciente que toma medicamentos para diabetes, colesterol e dor no joelho está tratando do efeito e não da causa, e com isso as doenças vão progredindo. O certo seria tirar o sapato ou trocar de número. Não adianta ao obeso tomar remédio para cinco doenças diferentes se ele continua com a causa do problema.” [Carolina Cotta - Estado de Minas]



Composto pode inibir radicais livres ligados a obesidade


Agência USP

O CAPE, substância extraída da própolis e testada em pesquisa da Escola de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP em Piracicaba, apresenta potencial antioxidante. Os resultados obtidos pela pesquisadora Aline Camila Caetano em experimentos com camundongos revelam que o CAPE pode combater a formação de radicais-livres associados à obesidade e a doenças como diabetes tipo 2 e hipertensão.

Isolado da própolis produzida pelas abelhas, o CAPE é um composto fenólico que possui várias atividades biológicas, como por exemplo o efeito antiinflamatório e antimicrobiano. “O estudo verificou a propriedade antioxidante em modelo experimental de obesidade e estresse oxidativo em camundongos”, conta a pesquisadora, formada em Ciências dos Alimentos.

Durante a pesquisa, grupos de camundongos tiveram obesidade induzida por uma dieta à base de gordura de porco, por um período de 8 semanas. Em seguida, parte deles recebeu o CAPE por via oral, nas dosagens de 13 e 30 miligramas (mg) por quilo de peso, em período de 15 e 22 dias. Depois desse período, foi verificada a atividade de enzimas associadas ao estresse oxidativo nos tecidos adiposo e hepático.

Nos camundongos que receberam a dosagem de 13 mg, verificou-se no tecido hepático que as enzimas tiveram um comportamento semelhante ao grupo controle, composto por animais não submetidos ao estresse oxidativo gerado pela obesidade. “Não houve aumento da atividade das enzimas, o que evidencia um possível efeito antioxidante do CAPE”, destaca Aline. “Também foi registrado uma redução da produção de peróxido de hidrogênio e da peroxidação lipídica, outro indício do efeito protetor do composto.”

Radicais-livres
De acordo com Aline, a obesidade, devido ao maior consumo de nutrientes na dieta, leva a um aumento da glicose e de ácidos graxos circulantes no organismo, aumentando a produção de Espécies Reativas de Oxigênio (ERO) e radicais-livres. “Essas espécies estão associadas a doenças como resistência à insulina, diabetes tipo 2, esteatose hepática, hipertensão e risco de problemas cardiovasculares”, ressalta. “O processo é conhecido como síndrome plurimetábolica.”

O fígado, por ser um órgão com alta taxa metabólica, permitiu que o efeito antioxidante do CAPE estivesse mais presente e pudesse ser mais facilmente observado. No tecido adiposo, foram observadas poucas mudanças na atividade das enzimas, inclusive devido a dificuldade em se fazer análises na gordura dos animais”, diz Aline.

A pesquisadora aponta que devido ao peso dos camundongos, a dosagem testada é muito pequena, o que leva a necessidade de novos experimentos com animais antes da utilização do CAPE ser tentada em seres humanos. “É um processo que deve levar alguns anos”, observa. “Também será preciso estudar de que forma o composto seria administrado em humanos.”

A pesquisa é descrita na dissertação de mestrado de Aline, apresentada no Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição da Esalq. O trabalho teve a orientação do professor Severino Matias de Alencar, da Esalq, e de Rosângela Maria Neves Bezerra, pesquisadora e pós-doutoranda na Escola.





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