Quase 30 anos após conflito, tensão entre argentinos e britânicos volta a crescer pela soberania das ilhas do Atlântico Sul
Quase trinta anos depois, um pequeno arquipélago no Atlântico Sul formado por duas ilhas principais e outras 700 menores, numa área total de 12.173 km2, está novamente em destaque no noticiário internacional. Malvinas, para os argentinos, cujo litoral fica a apenas 480 quilômetros do lugar. Falklands, para os britânicos, que administram as ilhas desde 1883, tempo em que ainda eram um grande império.
foto: AE
A relação entre os dois países está particularmente mais tensa desde uma cúpula do Mercosul, realizada em dezembro passado em Montevidéu, na qual Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai decidiram impedir a entrada de embarcações com bandeiras das ilhas Malvinas em seus portos. “Quero agradecer a todos a imensa solidariedade para com as Malvinas, e saibam que quando estão firmando algo sobre as Malvinas a favor da Argentina também o estão fazendo em defesa própria”, destacou a presidente argentina, Cristina Kirchner.
A resposta britânica foi rápida: no fim de janeiro, o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, informou ao Parlamento britânico que convocou o Conselho Nacional de Segurança para debater a questão e acusou a Argentina de "colonialismo" por reivindicar a soberania das ilhas. E neste mês o príncipe William, segundo na linha de sucessão à coroa britânica, viajou para as Malvinas para participar de treinamentos como piloto de helicóptero de resgate. O governo argentino encarou como uma provocação a presença do membro da família real no arquipélago. Ontem, foi anunciado que vários deputados do Reino Unido viajarão para as Malvinas em março. Será a primeira visita da Comissão de Defesa da Câmara dos Comuns desde 1999, realizada algumas semanas antes do aniversário do início do conflito.
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Timerman apresentou um documento detalhado da ação militar britânica nas Malvinas, que aponta o aumento da presença das Forças Armadas na região. "O orçamento militar inglês foi reduzido em todo o mundo, menos nas Malvinas", acusou o chanceler durante entrevista coletiva que foi transmitida ao vivo pelas emissoras de TV da Argentina. Segundo ele, "os exemplos mais notáveis da militarização por parte do Reino Unido são a recente incorporação ao sistema bélico das Malvinas de um destroier HMS Dauntless tipo 45 e de aviões Typhoon II com mísseis Taurus e o envio de um submarino nuclear".
O submarino com propulsão nuclear, segundo detalhou o ministro, tem capacidade para transportar armamento nuclear. "Informações recebidas pela Argentina através de fontes indicam que se trataria do submarino Vanguard", disse ele, queixando-se da falta de confirmação do governo britânico sobre o assunto. Timerman também disse que os aviões Typhoon Eurofighter, que realizam exercícios na base aérea das Malvinas, são do mesmo modelo usado na Líbia, no Afeganistão e no Iraque.
"Por que esse tipo de avião se encontra na nossa região? Nenhum país da América do Sul dispõe dessa capacidade bélica", reclamou o ministro argentino. Ele disse que os pilotos britânicos são treinados nesses aviões para depois ser enviados a zonas de conflito. Timerman disse ainda que os britânicos estão realizando no arquipélago provas com o míssil Taurus, com um alcance de até 500 km. "Combinado com o avião Typhoon II, o míssil se transforma na arma mais ofensiva e letal em operação no Atlântico Sul, que pode alcançar grande parte da Argentina e do Chile, o Uruguai e o Brasil", afirmou.
"O Reino Unido usa a infundada defesa da autodeterminação de 2 500 habitantes das ilhas como desculpa para o estabelecimento de uma poderosa base militar, que serve aos seus interesses estratégicos no Atlântico Sul", disse o ministro. Nesse sentido, Timerman reiterou o apelo de seu governo para que o Reino Unido cumpra determinação da ONU de sentar-se para negociar uma solução pacífica e definitiva para a disputa em torno da soberania sobre as Malvinas.
Na última terça-feira, o governo argentino aceitou oficialmente que o presidente da Assembleia Geral da ONU, Nassir Abdulaziz Al-Nasser, coordene eventuais negociações com o Reino Unido na disputa sobre a soberania das Ilhas Malvinas.
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Petróleo
Na quarta-feira da semana passada, a presidente Cristina Kirchner havia dito que a região possui a maior reserva de recursos naturais do planeta e que as guerras futuras serão por esses recursos. Em 2010, a Desire Petroleum, uma empresa britânica, iniciou a perfuração de um campo de prova para a extração de petróleo nas ilhas.
O Serviço Britânico de Medições Geológicas estimava que poderia haver até 60 bilhões de barris de petróleo sob as águas do arquipélago (três vezes o total das reservas americanas de petróleo). Na época, a Argentina ameaçou tomar "medidas adequadas" para impedir a exploração, por violar sua soberania, e impôs restrições à navegação no entorno da ilha. As águas no entorno das Malvinas são consideradas pela Grã-Bretanha como território britânico além-mar.
No entanto, no fim do mês passado, o ministro britânico de Energia, Chris Huhne, afirmou que os resultados das primeiras explorações de petróleo na região foram "decepcionantes", mas disse que a situação pode mudar no futuro. Uma dúvida que não faz diminuir o interesse de ambos os lados pelo arquipélago. (Das agências)
A Gazeta ES
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