domingo, 4 de dezembro de 2011

Frases de pára-choque vão de amor a humor, mas Deus é o campeão

 O divertido, curioso e cada vez mais religioso mundo dos pára-choques de caminhão
É comum encontrar pedidos de proteção e cuidado nos caminhões das estradas. Mas frases curiosas como "Coroa de mini-saia é vitrine de varizes" ainda têm espaço garantido
foto: Leonardo Quarto

Mensagem de um caminhoneiro pede proteção nas estradas: religiosidade, medo da morte no trânsito e solidão imposta pela profissão fazem motoristas se apegarem à fé para seguir adiante


"Coroa de mini-saia é vitrine de varizes". Frases como essa podem ser consideradas vulgares, antiquadas e machistas, mas possivelmente já atraíram a sua atenção durante uma viagem pelas estradas do país. Mais que isso, formam um divertido painel: as frases de para-choque de caminhão, ou das lameiras mesmo, assim como é conhecida a parte do veículo que carrega as mensagens, são a cara do Brasil.

Deus é o campeão nas escolhas. Palavras religiosas, pedidos de proteção e mensagens de conforto são as mais presentes, o que se explica por pelo menos dois motivos. O primeiro: o Brasil é um país com uma cultura muito sólida de crenças religiosas. O segundo: o medo da morte (somente em 2011 foram mais de 100 registros, apenas na BR-101, uma das principais vias que cortam o Estado).

Para a psicóloga Kirla Dornellas, especialista em relações interpessoais, aos dois fatores soma-se outro: a solidão. "O caminhoneiro anda horas e horas sozinho. As frases são uma tentativa de ser amparado por um ser superior", analisa.

foto: Leonardo Quarto

O frentista Ramon Alvarenga diz que já viu de tudo um pouco
nos pára-choques de caminhão: "Eles são bem criativos", afirma


"Arte na lama"


Sobre as curiosidades das mensagens em lameiras de caminhão, uma verdadeira autoridade no assunto é o artista plástico Natanael Pinheiros. Experiente na profissão, no atual emprego há seis anos, ele conta que as frases ou até mesmo um desenho pedido por caminhoneiros podem custar entre R$ 20 e R$ 450. "Depende da dificuldade do trabalho, e dos materiais", explica.

Os pedidos mais frequentes, segundo ele, são mesmo para escrever frases bíblicas. "A situação de insegurança nas estradas faz que com mais gente recorra a Deus. Isso pede uma aproximação maior com o divino", acredita.

Além da religião, e das brincadeiras com mulheres, existem também os pedidos educacionais e que mostram a preocupação dos caminhoneiros com a natureza. "Temos frases educativas do tipo 'Ame a natureza'. Nesse trabalho se vê de tudo um pouco", conta. 

Não são só os viajantes que convivem com as mensagens de caminhão. Os frentistas de postos de gasolina também se deparam dia após dia, com uma nova "lição filosófica". Ramon Alvarenga é um destes profissionais. Ele trabalha no ramo há mais de uma ano e conta que já viu de tudo. Entre as frases que o marcaram está: 'Antes eu sonhava, hoje nem durmo mais'. "Até algumas coisas mais vulgares já verifiquei, os caminhoneiros são bem criativos", diz.


O que eles querem dizer

Principais personagens desta história, os caminhoneiros não podiam ficar de fora desta história. Em uma volta por alguns postos de gasolina da Grande Vitória, um pequeno detalhe chamou atenção. O caminhão de Luiz Carlos Rotandano tem um símbolo de um coelho em suas lameiras. A imagem é bastante conhecida no universo masculino. "É para ilustrar o reprodutor. Dizem que caminhoneiro é muito mulherengo e tal. Então coloquei o coelhinho ali. Temos uma fama já. Na verdade nada disso acontece, sou fiel a minha mulher", justifica.



O detalhe exótico não é o único que chama atenção no carro de Rotandano. Na parte da frente do caminhão vão os nomes das duas filhas, como você vê na foto abaixo. "É para lembrar delas sempre", conta.
foto: Leonardo Quarto

Caminhão leva nome das filhas de motorista ao lado do símbolo da fertilidade: "É para ilustrar o reprodutor. Dizem que caminhoneiro é muito mulherengo e tal. Então coloquei o coelhinho ali. Temos uma fama. Na verdade nada disso acontece, sou fiel a minha mulher", justifica o dono.



Leonardo Quarto - gazeta online

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