quinta-feira, 25 de agosto de 2011

46% dos médicos desaprovam remédios genéricos

46% dos médicos desaprovam genéricos Entre os consumidores, 83% afirmam acreditar nos remédios


foto: Bernardo Coutinho

"Tomo cinco remédios por mês. Tenho problema de vista, pressão e princípio de diabetes. Sempre confiei nos genéricos"
Clóvis Pires, 73 anos, aposentado

Criados há 11 com o objetivo de permitir o acesso a uma série de medicamentos a um preço mais barato, os remédios genéricos, pelo menos entre os médicos, estão longe de ser uma unanimidade. Nada menos que 46% destes profissionais consideram o processo de avaliação e controle de qualidade dos produtos menos exigente do que o que ocorre com os medicamentos de marca.

Entre os consumidores, o cenário é diferente: 83% deles acreditam que os genéricos são tão eficazes quanto os outros. Os dados são de uma pesquisa realizada pela Proteste Associação de Consumidores, em todo o país.

"Sempre que me indicam eu compro. Nunca tive nenhum problema", afirma a aposentada Maria da Glória Colombo, de 80 anos.

Indicação, aliás, é algo que continua sendo comum, mesmo com a dúvida dos médicos. Apesar de 44% deles acreditarem que os genéricos sofrem mais falsificações, 92% afirmaram ter recomendado o medicamento no último ano. O objetivo foi reduzir o custo de tratamento.

PolêmicaAdenilton Pedro Cruzeiro, diretor do Conselho Regional de Medicina (CRM/ES), concorda que há médicos que preferem não indicar os genéricos, mas, segundo ele, essa é uma questão pessoal. "Os testes de qualidade realizados pela Agência de Vigilância Sanitária são seguros. Quanto a isso não há dúvida", diz.

O presidente da Associação Médica do Espírito Santo (Ames), Antônio Carlos Resende, não concorda. "Não confio. Eles não são feitos periodicamente, e a indústria desse tipo de medicamento não abre a composição dos remédios. Fora que muitos desses produtos já estão, inexplicavelmente, mais caros que os originais", diz. 

Para o presidente do Sindicato dos Médicos, doutor Otto Baptista, o fato de muitos especialistas não indicarem os genéricos pode ser explicado pela preferência por alguns laboratórios. "Alguns não são confiáveis", observa.

Entre os farmacêuticos, a confiança no produto é absoluta. A conselheira do Conselho Regional de Farmácia (CRF/ES) Denise Oliveira diz que todo esse ceticismo pode ter razão na falta de costume com o produto.

A pesquisa da Proteste entrevistou 690 adultos, de 18 a 64 anos, e 119 médicos, entre abril e junho de 2011, para saber o que as pessoas pensam e suas experiências com esses medicamentos.

A pesquisa em números

46%: Acham que o controle de qualidade é menos exigente do que o que ocorre com os medicamentos de marca

44%: Acreditam que esses remédios sofrem mais falsificações

92%: Afirmaram ter recomendado o medicamento no último ano para reduzir o custo

30% : Não concordam com a ideia de os genéricos serem tão eficazes

23% : Acham que eles não têm a mesma segurança que os remédios de referência

42% : Afirmaram não ter o hábito de prescrevê-los.

88% : Dizem que farmacêuticos, pelo menos uma vez, sugeriram a substituição do remédio prescrito por um genérico

83%: Apontam que os genéricos são tão eficazes quanto os medicamentos de referência

80% :Acham que eles apresentam a mesma segurança

90% : Afirmaram que é fácil encontrar os genéricos nas farmácias

Anvisa usa os mesmos critérios para liberar medicamentos


Os estudos e o processo de concessão de registro para os medicamentos genéricos, similares ou de marca (referência) seguem o mesmo rigor sanitário, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Para cada genérico que chega ao mercado, segundo o órgão, são realizados testes de bioequivalência para comprovar que a ação do genérico é igual a do medicamento de referência.

A Anvisa preferiu não fazer mais comentários sobre a pesquisa, pois não teve acesso ao conteúdo e metodologia dos trabalhos, mas apontou que os genéricos são um caso de sucesso no Brasil. Em 10 anos chegaram a 20% de participação no mercado brasileiro. Com um crescimento de 17% ao ano.

Sibutramina pode ser liberada

Depois da polêmica em torno da proibição dos remédios para emagrecer, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) quer permitir a venda, sob um controle mais rígido, dos remédios que contêm o inibidor de apetite sibutramina em sua fórmula.

Segundo o parecer técnico do órgão, que deve ser votado no próximo dia 30, a ideia é retirar os derivados anfetamínicos do mercado (como femproporex e dietilpropiona), mas permitir a comercialização mais controlada da sibutramina.

Hoje, o uso de remédios para emagrecer com sibutramina é controlado, e a receita médica fica retida na farmácia. Estudos indicam que esses remédios podem aumentar o risco de problemas cardíacos.

Na nova proposta da Anvisa, o controle vai ficar por conta dos médicos, que, ao receitarem o medicamento, terão que assinar um termo de responsabilidade. O paciente assinará outro termo declarando que recebeu todas as informações sobre os riscos da substância.

"Transferir para o médico a responsabilidade no controle dos remédios, não é justo. Esse deveria ser papel da polícia", rebate o endocrinologista Laerte Damaceno. (Mayra Bandeira)

Frederico Goulart
A Gazeta

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