terça-feira, 17 de maio de 2011

Dinamarca vai reivindicar polo Norte e grande área no Ártico

O governo da Dinamarca afirmou nesta terça-feira que planeja reivindicar uma grande área localizada no oceano Ártico, incluindo o polo Norte.

"Esperamos que a Dinamarca consiga ser bem-sucedida na reivindicação de uma área que, entre outras coisas, inclui o polo Norte", disse a ministra das Relações Exteriores dinamarquesa, Lene Espersen, por meio de um comunicado.

As declarações foram feitas um dia depois que a mídia local divulgou a notícia sobre um documento do governo que detalha como o país pretende fazer a reivindicação.

Slim Allagui - set.2004/France Presse
Dinamarca quer aumentar seu território dentro
do Círculo Polar Ártico; na foto, barco de pesca nas
 águas da Groenlândia





Espersen disse que a chancelaria dinamarquesa prepara um documento, que deve ser publicado em meados de junho, com a estratégia do país para a região para os próximos dez anos.

O documento deve ser submetido à ONU. Atualmente, o território dinamarquês situado dentro ou próximo do Círculo Polar Ártico inclui as ilhas Faroe e a Groenlândia.

RECURSOS

Rússia, Estados Unidos, Canadá e Noruega também reivindicam grandes áreas do Ártico.

Acredita-se que a região concentra cerca de 25% das reservas ainda não descobertas de gás e petróleo.

Os recursos naturais do Ártico vêm se tornando mais acessíveis com o derretimento do gelo, devido ao aquecimento global.

Além de recursos minerais, o derretimento do gelo viabiliza novas rotas comerciais para navios e locais de pesca.


Groelândia



País emergente, graças ao aquecimento global

Trenó puxado por cães husky no fiorde Kangia. Esse tipo
de transporte é comum na Groenlândia.

Do Glaciar de Jakobshavn, em Ilulissat, ainda surgem icebergs maiores que os superpetroleiros ancorados na Baía Disko. Mas o ar polar que todos os anos varria o território groenlandês, vindo do norte para o sul, e respondia por sua fama de lugar gélido, não tem mais aparecido. O clima está cada vez menos frio na Groenlândia, e a multimilenar camada de gelo que a recobria está derretendo em ritmo acelerado, fazendo aparecer áreas de terra cada vez mais extensas. Isso é visível a olho nu.

A Groenlândia é a maior e mais setentrional ilha do mundo. Há alguns anos, era habitada por uns poucos milhares de pessoas. Com uma área total de 2.166.086 quilômetros quadrados, é hoje o lar de uma população de 56,3 mil habitantes. O clima é frio no inverno (40°C negativos), mas no verão, na parte sul da ilha, atinge facilmente os 15°C. Novos imigrantes chegam a cada dia. Foi lá que nasceu e cresceu Aleqa Hammond, groenlandesa legítima, filha de uma família de caçadores.

Além de ministra das Relações Exteriores da Groenlândia, agora ela também é uma das líderes de um movimento cada vez mais forte pela independência da ilha. Dominada durante séculos pela Noruega, a Groenlândia ainda é uma província da Dinamarca. Mas já possui governo próprio. Antes, era considerada economicamente fraca para se auto-sustentar. Mas esse quadro está mudando.

A independência econômica da Groenlândia logo acontecerá. Para sobreviver, a ilha recebe R$ 1,3 bilhão anualmente do governo de Copenhague. Com a exploração dos minerais existentes embaixo da camada de gelo, a dependência financeira acabará como num passe de mágica. As negociações já começaram. A ilha discute um acordo com nove multinacionais que querem licença para explorar petróleo na região. Além disso, está cheia de prospectores de minério em busca de um novo Eldorado.

As conseqüências da última corrida armamentista ainda estão frescas na memória dos groenlandeses. A base aérea dos Estados Unidos em Thule, no noroeste da Groenlândia, foi estabelecida durante a Segunda Guerra Mundial e se tornou um posto estratégico para o armamento nuclear do país durante a Guerra Fria. Em 1968, um bombardeiro norte-americano B-52, carregado com bombas atômicas, caiu na região. Uma das suas bombas nunca foi encontrada. Acredita-se que esteja até hoje no fundo do mar. Mas sua radiação provocou conseqüências gravíssimas para a população inuit - esquimós nativos do Ártico. Parte deles não consegue ter filhos.


Outros fatores, no entanto, ameaçam a Groenlândia tradicional. As mudanças que ocorrem no local têm gerado tensão social. Na capital, Nuuk, moram pouco mais de 15 mil pessoas, mas seus problemas são os mesmos de qualquer cidade grande. Alcoolismo, desemprego e suicídio constroem um cenário urbano depressivo. Além disso, muito se debate sobre a possível perda de identidade nacional devido à crescente entrada de estrangeiros na ilha. Rapidamente, os groenlandeses legítimos poderão ser minoria em seu próprio país.

Nesse cenário que em muitos aspectos se assemelha à corrida ao ouro dos velhos tempos do faroeste norte-americano, as primeiras vítimas das conseqüências ruins do aquecimento global na Groenlândia parecem ser os inuits. Aqqaluk Lynge, renomado poeta e político inuit, e um dos principais representantes do seu povo no governo groenlandês, já lançou o alerta: "Muitosanimais desapareceram, outros apareceram, os mares e gelos mudaram, as correntes marítimas se alteraram. Nosso mundo, como o conhecíamos, está chegando ao fim."

A vida em condições extremas
A Groenlândia (em groenlandês, Kalaallit Nunaat, que significa "a nossa terra") é uma região autônoma dinamarquesa que ocupa a ilha do mesmo nome e ilhas adjacentes, ao largo do litoral nordeste da América do Norte. As suas costas dão, ao norte, para o Oceano Glacial Ártico, a leste, para o Mar da Groenlândia, a leste e sul, para o Oceano Atlântico e, a oeste, para o Mar do Labrador e a Baía de Baffin.

A história da Groenlândia é a da vida sob as extremas condições árticas: uma capa de gelo cobre 84% do território da ilha, restringindo a atividade humana às costas. A Groenlândia era desconhecida da Europa até o século 10, quando foi descoberta por vikings islandeses. Antes desse "descobrimento", a ilha havia sido ocupada por povos árticos, embora estivesse desabitada quando da chegada dos vikings: os ancestrais diretos dos modernos iInuits (anteriormente chamados esquimós) só chegaram à ilha ao redor do ano 1200. Os inuits foram o único povo que habitou a ilha durante séculos, mas, lembrando a colonização viking, a Dinamarca reclamou a soberania sobre o território e o colonizou a partir do século 18. Obteve, assim, privilégios, tais como o monopólio comercial.

Durante a Segunda Guerra Mundial, a Groenlândia se separou de fato, tanto social como economicamente, da Dinamarca, aproximando-se mais dos Estados Unidos e do Canadá. Depois da guerra, o controle da ilha voltou à Dinamarca, retirando-se seu status colonial. Embora a Groenlândia continue sendo parte do Reino da Dinamarca, é autônoma desde 1979. A ilha possui o status de Estado associado à União Européia.

A pesca domina a economia do território. A caça à foca marca a vida dos habitantes do norte. A descoberta de petróleo, zinco e ouro, em 1994, promete mudar a economia, ainda bastante dependente da Dinamarca, que também responde por sua defesa e relações externas.

Revista Planeta

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