Em entrevista a Renata Ceribelli, a modelo brasileira famosa internacionalmente conta que ainda enfrenta o preconceito.
Uma brasileira está abalando - e bota abalo nisso - o mundo da moda: Lea T. Transexual, ela seguiu um caminho no mínimo diferente até as passarelas. Ela contou a sua história para Renata Ceribelli em uma entrevista corajosa.
Para o mundo, ela é Lea T, a brasileira que está entre as 50 maiores modelos da atualidades e que vem fazendo barulho com fotos provocantes. Para o Brasil, ela é mais que isso. É a mineira, filha de um dos grandes nomes do futebol brasileiro: Toninho Cerezo.
Lea era Leandro, um menino.
Renata Ceribelli: Um molequinho que se sentia como, nessa infância?
Lea: Eu me sentia um menino. Não chegava a gostar de jogar bola, mas me sentia um menino. Hoje, relembrando, já dava para entender algumas coisas. Eu adorava de pôr camiseta na cabeça para fingir que tinha cabelo comprido. Eu mexia nas roupas da minha mãe e nas bonecas das minhas irmãs.
Renata Ceribelli: Você era afeminado?
Lea: Eu não percebia. É uma coisa que você não percebe. Vem naturalmente. Mas eu percebia que às vezes as coleguinhas falavam alguma coisa. De repente o meu pai falava: esse garoto está muito afeminado. Ele nunca disse isso bravo. É filho, é homem, tem que se comportar como homem.
Foto: Getty ImagesRenata Ceribelli: Você namorava menina ou menino?
Lea: Eu não namorava. Ir com homem, para mim, era ir com gay. Mas eu não me sentia gay. Porque a transexual tem a cabeça de uma mulher, então ela não ir com um homossexual. Ela se vê uma mulher. Ela quer ir com um homem para ela conseguir se sentir mulher.
Renata Ceribelli: Na adolescência, como a sua família te via?
Lea: Como gay. Eles me viam como gay.
Lea, que ainda era Leandro, foi ficando cada vez mais feminina. “Três, quatro anos atrás eu já me vestia de mulher, me montava. Aí eu era um travesti: um homem que se veste de mulher”, conta.
Ela foi procurar um psquiatra para entender melhor a sua sexualidade. Foi quando recebeu o diagnóstico de transexual: um distúrbio de sexualidade. No caso, uma mulher em um corpo de homem. Para corrigir isso, existe a cirurgia de troca de sexo. “Eu fui na terapia e eles falaram que eu tinha esse distúrbio”, diz a modelo.
Renata Ceribelli: Como você contou para a sua família?
Lea: Foi muito difícil.Eu reuni todo mundo e falei: houve uma mudança no meu corpo e em mim. A primeira reação foi choro para mim, para minha mãe e minhas irmãs. Foi duro. Minha mãe ligou para o meu pai e ele ficou super tranquilo. Ele até mudou muito o jeito de me tratar. Ele era mais frio com algumas coisas, talvez porque ele ainda me tratava como homem. Ele ficou mais dócil, dizia: lembre sempre que papai te ama. Quando eu falava um nome feio, ele dizia: mulher não fala assim. (risos) Ele falava isso sério, querendo me ensinar! É fofo.
Começa então o processo de transformação do corpo por hormônios. “A pele muda, o pelo fica um pouco mais fraco, o cabelo cresce mais. Os seis crescem não muito, mas crescem um pouco”, descreve.
Mas o mais difícil ainda é o preconceito. “Você vê não transexual trabalhando em nenhum lugar. Você vê transexual só na rua se prostituindo. Para mim, pensar que o meu final teria que ser como o delas era muito duro”, diz.
Foi quando pediu ajuda para o estilista Ricardo Tisci, um amigo de muitos anos. “Liguei para ele, estava desesperada. Ele disse para eu ficar calma, que conseguiria um emprego para mim”, lembra Lea, emocionada.
Lea foi lançada como modelo de uma das marcas mais importantes da moda. Foi ao programa de uma das principais entrevistadoras da TV americana, Oprah Winfrey. Ousou ao posar para uma foto nua e revelando sua dupla sexualidade. Também para uma foto com a modelo Kate Moss.
”Foi uma forma de protesto. Eu quero falar que nós existimos. Porque nós temos um problema, nós vivemos com remédio. Nós amputamos o nosso corpo. É uma coisa muito forte”, aponta Lea.
“Eu não vejo lado bom em ser transexual. Eu sou penalizada em tudo. Não é uma coisa gostosa. Você tem que levar para o lado do transexualismo em si: remédio, terapias, operações e preconceito. Mas também tenho a parte da minha vida sem pensar nisso, os momentos de felicidade.”
Momentos de felicidade como cada vez que é fotografada, como no ensaio para a revista do São Paulo Fashion Week, ou cada vez que é aplaudida em uma passarela. A sensação é de vitória. Não só dela, mas de todos que têm uma história parecida.
http://fantastico.globo.com
Para o mundo, ela é Lea T, a brasileira que está entre as 50 maiores modelos da atualidades e que vem fazendo barulho com fotos provocantes. Para o Brasil, ela é mais que isso. É a mineira, filha de um dos grandes nomes do futebol brasileiro: Toninho Cerezo.
Lea era Leandro, um menino.
Renata Ceribelli: Um molequinho que se sentia como, nessa infância?
Lea: Eu me sentia um menino. Não chegava a gostar de jogar bola, mas me sentia um menino. Hoje, relembrando, já dava para entender algumas coisas. Eu adorava de pôr camiseta na cabeça para fingir que tinha cabelo comprido. Eu mexia nas roupas da minha mãe e nas bonecas das minhas irmãs.
Renata Ceribelli: Você era afeminado?
Lea: Eu não percebia. É uma coisa que você não percebe. Vem naturalmente. Mas eu percebia que às vezes as coleguinhas falavam alguma coisa. De repente o meu pai falava: esse garoto está muito afeminado. Ele nunca disse isso bravo. É filho, é homem, tem que se comportar como homem.
Lea T. diz que pretende fazer a operação de mudança de sexo - Foto: Getty Images |
Lea: Eu não namorava. Ir com homem, para mim, era ir com gay. Mas eu não me sentia gay. Porque a transexual tem a cabeça de uma mulher, então ela não ir com um homossexual. Ela se vê uma mulher. Ela quer ir com um homem para ela conseguir se sentir mulher.
Renata Ceribelli: Na adolescência, como a sua família te via?
Lea: Como gay. Eles me viam como gay.
Lea, que ainda era Leandro, foi ficando cada vez mais feminina. “Três, quatro anos atrás eu já me vestia de mulher, me montava. Aí eu era um travesti: um homem que se veste de mulher”, conta.
Ela foi procurar um psquiatra para entender melhor a sua sexualidade. Foi quando recebeu o diagnóstico de transexual: um distúrbio de sexualidade. No caso, uma mulher em um corpo de homem. Para corrigir isso, existe a cirurgia de troca de sexo. “Eu fui na terapia e eles falaram que eu tinha esse distúrbio”, diz a modelo.
Renata Ceribelli: Como você contou para a sua família?
Lea: Foi muito difícil.Eu reuni todo mundo e falei: houve uma mudança no meu corpo e em mim. A primeira reação foi choro para mim, para minha mãe e minhas irmãs. Foi duro. Minha mãe ligou para o meu pai e ele ficou super tranquilo. Ele até mudou muito o jeito de me tratar. Ele era mais frio com algumas coisas, talvez porque ele ainda me tratava como homem. Ele ficou mais dócil, dizia: lembre sempre que papai te ama. Quando eu falava um nome feio, ele dizia: mulher não fala assim. (risos) Ele falava isso sério, querendo me ensinar! É fofo.
Começa então o processo de transformação do corpo por hormônios. “A pele muda, o pelo fica um pouco mais fraco, o cabelo cresce mais. Os seis crescem não muito, mas crescem um pouco”, descreve.
Mas o mais difícil ainda é o preconceito. “Você vê não transexual trabalhando em nenhum lugar. Você vê transexual só na rua se prostituindo. Para mim, pensar que o meu final teria que ser como o delas era muito duro”, diz.
Foi quando pediu ajuda para o estilista Ricardo Tisci, um amigo de muitos anos. “Liguei para ele, estava desesperada. Ele disse para eu ficar calma, que conseguiria um emprego para mim”, lembra Lea, emocionada.
Lea foi lançada como modelo de uma das marcas mais importantes da moda. Foi ao programa de uma das principais entrevistadoras da TV americana, Oprah Winfrey. Ousou ao posar para uma foto nua e revelando sua dupla sexualidade. Também para uma foto com a modelo Kate Moss.
”Foi uma forma de protesto. Eu quero falar que nós existimos. Porque nós temos um problema, nós vivemos com remédio. Nós amputamos o nosso corpo. É uma coisa muito forte”, aponta Lea.
“Eu não vejo lado bom em ser transexual. Eu sou penalizada em tudo. Não é uma coisa gostosa. Você tem que levar para o lado do transexualismo em si: remédio, terapias, operações e preconceito. Mas também tenho a parte da minha vida sem pensar nisso, os momentos de felicidade.”
Momentos de felicidade como cada vez que é fotografada, como no ensaio para a revista do São Paulo Fashion Week, ou cada vez que é aplaudida em uma passarela. A sensação é de vitória. Não só dela, mas de todos que têm uma história parecida.
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