As crianças parecem crescer muito rapidamente e com velocidade que dá a impressão de aumentar a cada geração. Mas, de acordo com a antropologia evolutiva, a infância humana é longa, mais do que a dos outros primatas.
E é uma infância também mais demorada do que a dos antepassados do homem moderno, segundo um estudo que será publicado esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
A pesquisa, feita a partir da análise de dentes de fósseis e da comparação com dados atuais, indica que o neandertal atingia a maturidade mais cedo do que o homem moderno. Essa lentidão não é ruim, muito pelo contrário. Segundo o estudo, o amadurecimento mais longo pode ter sido uma vantagem evolutiva em comparação com as espécies humanas extintas.
O estudo, feito por cientistas dos Estados Unidos e da Europa, indica que o desenvolvimento lento e a infância longa são recentes e únicos para o gênero humano.
“Dentes registram o tempo notavelmente, capturando cada momento do desenvolvimento tal qual anéis de crescimento das árvores. Ainda mais impressionante é o fato de que nossos primeiros molares contêm uma minúscula certidão de nascimento, uma linha que permite calcular exatamente a idade de um jovem ao morrer”, disse Tanya Smith, da Universidade Harvard, primeira autora do estudo.
Em comparação com o homem, os outros primatas têm gestação mais curta, amadurecimento mais rápido, chegam mais cedo à idade reprodutiva e vivem menos, em média. Não se sabe quando tal diferenciação ocorreu nos cerca de 6,5 milhões de anos da escala evolucionária desde que o homem se separou dos demais primatas.
A pesquisa envolveu alguns dos mais célebres fósseis de crianças neandertais já descobertos, como o primeiro deles, encontrado em 1829 na Bélgica. Até então, estimava-se que o fóssil fosse de uma criança de 4 ou 5 anos, mas a análise por meio de raios X com radiação síncrotron revelou que o indivíduo tinha apenas 3 anos quando morreu.
Segundo os autores, embora contar linhas nos dentes não seja um novo método, fazer isso “virtualmente”, por meio de tomografia computadorizada e radiação síncrotron, é novidade em tal tipo de estudo.
A longa infância humana é a chave para o sucesso da espécie
O Homem amadurece muito mais lentamente do que qualquer outra espécie e pode ser uma vantagem adicional para a aprendizagem e cognição complexa em comparação com outros ancestrais próximos dos humanos, como os neandertais.
A longa infância do Homo sapiens poderá ser a chave do seu sucesso no planeta quando comparado com outros primos humanos, como os neandertais (Homo neanderthalensis). Esta é a conclusão de uma investigação, publicada esta semana, que se realizou com o estudo de 11 dentes fossilizados encontrados na Europa.
O trabalho, publicado na revista “Proceedings of National Academy of Sciences” (PNAS) e realizado por cientistas da Universidade de Harvard, parte do facto de que as peças dentárias têm linhas que se vão acumulando com a idade, como os anéis de crescimento das árvores. Isto permite saber a idade dos restos encontrados com uma estimativa muito aproximada.
Para atingir a máxima precisão possível, os pesquisadores utilizaram o ESRF (European Synchrotron Radiation Facility, instituto de investigação internacional de vanguarda da ciência com fotões), nomeadamente o departamento de paleontologia gerido por Paul Tafforeau, único no mundo com esta especialidade. Foi então possível revelar o progresso anual de 10 molares neandertais e de 1 molar "sapiens" primitivo, desde da minúscula linha chamada de "certificado de nascimento" até à morte.
A conclusão a que chegaram é que nossa espécie amadurece muito mais lentamente do que qualquer outra, mesmo os nossos parentes mais próximos, desde que deixámos África há cerca de 100.000 anos atrás. De facto, os neandertais seguem um padrão de crescimento intermédio entre o Homo erectus, o primeiro ancestral humano, e moderno "sapiens". "Isto sugere que o desenvolvimento lento é uma característica recente e exclusiva de nossa espécie e pode ser uma vantagem adicional para a aprendizagem e cognição complexa em comparação com os contemporâneos neandertais", assinalam os investigadores.
A biologia evolutiva já demosntrou que a infância é diferente em cada espécie e os antropólogos têm documentado muitas diferenças entre os adultos de espécies muito próximas, como os seres humanos e os chimpanzés. Os dados genéticos e os fósseis indicam que as duas linhagens divergiram há cerca de seis milhões de anos, evoluindo de forma diferente. Os primatas não humanos mantêm um período de gestação curto, uma menor infância e uma idade reprodutiva precoce e de curta duração.
As investigações realizadas nos últimos 20 anos também concluíram que os "Australopithecus" e os "Homo habilis" cresciam mais depressa que os humanos modernos, mas não estava, no entanto, claro quando se começou a desenvolver esta prolongada infância.
Neste trabalho, os cientistas realizaram em todas as peças uma tomografia computadorizada de raios-X, graças ao sincrotrão europeu ESRF de Grenoble (França), um dos mais poderosos do mundo para ver imagens internas em três dimensões, sem causar danos permanentes. "No ESRF podemos ver dentro dos fósseis em diferentes escalas e estudar como foi o crescimento diário das suas linhas", aponta Tafforeau.
Entre as peças estudadas encontra-se a famosa criança neandertal descoberta na Bélgica no Inverno de 1830. Até agora pensava-se que tinha morrido com quatro ou cinco anos, mas agora comprovou-se que não tinha mais de três anos.
Fonte: http://www.elmundo.es
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