sexta-feira, 29 de março de 2013

Ritalina. Riscos do mau uso da "Droga da inteligência".


Riscos do mau uso da "Droga da inteligência". Pessoas usam remédio que sobrecarrega o cérebro

Adultos e jovens saudáveis estão usando remédios específicos ao tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) para melhorar o desempenho nos estudos. O metilfenidato (chamado comercialmente de Ritalina) chegou a ser apelidado de “a droga da inteligência”, mas médicos alertam que ele não melhora a atenção e o desempenho, como muitos acreditam, e seu uso fora do diagnóstico ainda pode ser perigoso.


A psiquiatra e autora do livro “Mentes Inquietas: TDAH - desatenção, hiperatividade e impulsividade”, Ana Beatriz Barbosa Silva, contou que pessoas que estão estudando para concursos e para vestibulares estão fazendo uso indiscriminado dessa substância.

“Hoje há um uso bastante infeliz desses remédios. E não são só os leigos que procuram por eles, já vi colegas médicos fazerem os filhos deles usarem para estudar para o vestibular. Isso me deixa chocada. Tem gente que chega ao consultório pedindo esses remédios para pular o Carnaval. É uma coisa absurda”, contou.

Para a psiquiatra, o consumo dessa substância por pessoas saudáveis é perigoso. “O remédio é para fazer o lobo central do cérebro trabalhar mais. Se não tenho TDAH, estou estimulando, hiperfuncionando esse cérebro que funciona normalmente. É aplicar insulina em quem não é diabético”, comparou.

O Brasil é o segundo maior consumidor do mundo de Ritalina, perdendo apenas para os Estados Unidos. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), só entre 2009 e 2011, o número de caixas vendidas mais que dobrou - pulou de 557,5 mil para 1,2 milhão. Só em 2011, os brasileiros gastaram R$ 28,5 milhões comprando o medicamento.

“Chama atenção a redução do consumo nos meses de férias e o aumento no segundo semestre do ano”, constata a coordenadora do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados da Anvisa, Márcia Gonçalves.

Diagnóstico

Para o neurologista Renan Domingues, o aumento no número de vendas pode ser uma boa notícia, já que mais pessoas estão recebendo diagnóstico adequado. “Hoje a doença é mais conhecida. Há 15 ou 20 anos não se falava em déficit de atenção em adultos”, contou.

Renan lembra que, mesmo sendo um remédio seguro, o metilfenidato tem efeitos colaterais, como dor de cabeça, alterações de peso e insônia, além de piorar tiques nervosos e transtornos de ansiedade em quem já tem esses problemas. “Por isso, é preciso ver qual a forma mais adequada de tratamento para cada paciente”, disse.

Ana Beatriz lembra que, na maioria dos casos, o remédio significa qualidade de vida para quem tem TDAH, mas é preciso cuidado no diagnóstico. “Muitos médicos inexperientes estão fazendo diagnóstico. É muito difícil fazer diagnóstico preciso antes da adolescência porque é preciso um histórico para provar que a pessoa sempre foi assim”, explicou a médica.

Uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), realizado no final de 2012, concluiu que, ao contrário da crença geral, o desempenho da memória, concentração e da atenção de jovens saudáveis não é alterado com o consumo de Ritalina.

Indicação

O remédio

O metilfenidato (Ritalina) é utilizado no tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), tanto em adultos como em crianças - a diferença é só a dose

Consumo

Segundo a Anvisa, em 2011 foram vendidas 1,2 milhão de caixas de Ritalina, um aumento de 115% em relação a 2009 e um gasto de R$ 28,5 milhões. O consumo é menor durante as férias e aumenta no segundo semestre do ano

Uso indiscriminado

Pessoas saudáveis estariam usando o remédio para melhorar memória, concentração e o desempenho, principalmente para estudar para provas e se preparar para concursos

Pesquisa

Em 2012, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) fez um estudo com 36 jovens saudáveis de 18 a 30 anos e mostrou que o uso da Ritalina não promoveu melhora cognitiva - não houve benefícios na atenção, memória e na capacidade de planejar e executar tarefas

Efeitos colaterais

Dor de cabeça, alterações de peso, insônia e, para quem já tem o problema, piora de tiques nervosos e transtornos de ansiedade. Há risco de dependência quando o uso é descontrolado



Fonte: A Gazeta

Nenhum comentário:

Postar um comentário