domingo, 21 de outubro de 2012

No Período Triássico temperatura chegava a 60ºC, impedindo a vida nos trópicos do planeta


Aquecimento global
Temperatura do planeta atingiu níveis letais no Período Triássico

Há 250 milhões de anos, temperatura na região tropical do planeta chegava a 60ºC, impedindo a vida nos trópicos do planeta
Fóssil de um conodonte: por meio da análise química de dentes do peixe pré-histórico, os pesquisadores foram capazes de descrever a temperatura do planeta há milhões de anos (Divulgação/UFRGS)


Após grandes extinções em massa, algumas regiões do planeta costumam permanecer em um estado conhecido como "zona morta", no qual espécies antigas não conseguem sobreviver e as novas não conseguem se desenvolver. Normalmente, essas zonas mortas duram dezenas de milhares de anos. No entanto, logo após a maior extinção em massa da história da Terra, que aconteceu entre o final do período Permiano (que ocorreu entre 299 milhões e 251 milhões de anos atrás) e início do Triássico (de 251 a 199 milhões de anos atrás), o tempo de zona morta durou cinco milhões de anos. Até hoje, os cientistas não haviam sido capazes de explicar o que aconteceu nesse período do planeta, há 250 milhões de anos, que impediu a recuperação da biodiversidade. Agora, uma pesquisa publicada na edição desta semana da revista Science propõe uma explicação: a Terra estava quente demais.

Os pesquisadores já sabiam que o aquecimento do planeta havia sido uma das principais causas da extinção em massa no final do Permiano, mas agora descobriram que níveis letais de calor foram responsáveis pelos cinco milhões de anos de dificuldades que se seguiram. Durante esse período a temperatura nos continentes na região dos trópicos variava entre 50 graus Celsius e 60 graus Celsius. No mar, chegava a 40 graus Celsius. "Já sabíamos que o aquecimento global estava ligado à extinção em massa do fim do Permiano, mas esse estudo é o primeiro a mostrar que temperaturas extremas impediram a vida de recomeçar nas baixas latitudes durantes milhões de anos", disse Yadong Sun, pesquisador da Universidade de Leeds e um dos autores do estudo.

Antes da grande extinção, a Terra era intensamente povoada por plantas e animais, com uma grande população de répteis e anfíbios primitivos nos continentes e uma grande variedade de criaturas no mar. Após o aquecimento, a zona morta se estendeu por toda região tropical do planeta, que se tornou uma área extremamente quente e úmida. Foi o fim das florestas. Sobraram apenas pequenos arbustos e samambaias. Nenhum animal conseguiu sobreviver em terra. Os peixes e répteis marinhos fugiram para regiões mais frias, deixando os oceanos tropicais para serem habitados apenas por animais invertebrados, como os moluscos. Nesse período, as regiões polares se tornaram o último refúgio da biodiversidade.

Forno triássico — Para chegar a esse resultado, os pesquisadores analisaram os dentes de 15.000 conodontes, peixes pré-históricos que se parecem com as enguias, encontrados no sul da China. Nesses animais, a quantidade de isótopos de oxigênio encontrada no esqueleto depende da temperatura do ambiente. Logo, por meio da análise química dos dentes os pesquisadores conseguiram prever a temperatura da Terra há milhões de anos.

Esse é o primeiro estudo a mostrar que a temperatura nos oceanos poderia chegar a letais 40 graus Celsius — uma temperatura tão elevada que a maioria dos animais morre e a fotossíntese não é mais possível. Para efeitos de comparação, hoje a temperatura média nos mares equatoriais vai de 25 a 30 graus Celsius.

"Nunca ninguém havia ousado dizer que o clima do passado havia atingido níveis tão altos. Se tivermos sorte, a atual tendência de aquecimento global não vai nos levar nem perto da temperatura de 250 milhões de anos atrás. Mas, se chegar, nós mostramos que a Terra pode demorar alguns milhões de anos para se recuperar", disse Paul Wignall, professor da Universidade de Leeds e um dos autores do estudo.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Lethally Hot Temperatures During the Early Triassic Greenhouse

Onde foi divulgada: revista Science

Quem fez: Yadong Sun, Michael M. Joachimski, Paul B. Wignall, Chunbo Yan, Yanlong Chen, Haishui Jiang,Lina Wang, Xulong Lai

Instituição: Universidade de Leeds, na Inglaterra

Dados de amostragem: Análise química de 15.000 dentes de peixes do Período Triássico. Por meio dos isótopos de oxigênio presentes nos fósseis, os cientistas conseguiram prever a temperatura no passado da Terra

Resultado: Os pesquisadores descobriram que, na região tropical do planeta, a temperatura variava entre 50ºC e 60ºC nos continentes e chegava 40ºC no mar.

Fonte: veja.abril.com.br



Calor extremo gerou era morta na pré-história
Temperatura média no equador chegava a 60 graus Celsius, causando extinção em massa


Considerado um dos maiores estresses ecológicos conhecidos da história da Terra, a extinção em massa do fim do Período Permiano — ocorrida há cerca de 250 milhões de anos com a perda de aproximadamente 90% de todas as espécies marinhas, 70% dos vertebrados terrestres e única que se sabe ter atingido até os insetos — foi caracterizada por uma forte elevação na temperatura dos oceanos. Isso atrasou a recuperação da biota (o conjunto de organismos de um ecossistema) nas regiões tropicais do planeta em pelo menos 5 milhões de anos durante o início do período geológico seguinte, o Triássico. As informações constam de um estudo com base em dados de cerca de 15 mil fósseis de conodontes, animais pré-históricos de corpo mole parecidos com enguias, encontrados em rochas no Sul da China e publicado na edição desta semana da revista “Science”.

Análises anteriores já haviam demonstrado que as crises ecológicas na História da Terra normalmente foram seguidas por chamadas “eras mortas”, períodos nos quais novas espécies não são vistas nos registros fósseis durante dezenas de milhares de anos. No caso da extinção em massa do fim do Permiano, no entanto, esta era morta se estende por um tempo de ordem de grandeza muito maior. Segundo os pesquisadores da Universidade de Leeds, no Reino Unido, e da Universidade de Geociências da China, as descobertas podem ajudar a entender melhor os efeitos que o atual aquecimento global pode ter na biodiversidade dos oceanos e como sua perda pode ter consequências de longo prazo sobre toda a vida na Terra.

— O aquecimento global foi associado à extinção em massa do fim do Permiano há muito tempo, mas este estudo é o primeiro a mostrar que as temperaturas extremas de então impediram por milhões de anos que a vida tivesse um recomeço nas latitudes equatoriais — diz Yadong Sun, pesquisador da Universidade de Geociências da China que está completando seu doutorado em Leeds e principal autor do artigo.

Nos últimos anos, outro período antigo de aquecimento global associado a um estresse ecológico, ocorrido 55 milhões de anos atrás e conhecido como máximo térmico do Paleoceno-Eoceno (PETM, na sigla em inglês), tem sido usado como modelo para prever possíveis resultados do atual processo de mudanças climáticas. Alguns cientistas argumentam, no entanto, que o PETM não teve a severidade e rapidez das alterações registradas hoje, o que tornaria importante analisar também as consequências de eventos ambientais mais radicais, como o do fim de Permiano.

De acordo com o estudo publicado na “Science”, entre o fim do Permiano e o início do Triássico, a elevação da temperatura do planeta atingiu níveis letais nos trópicos, chegando a uma média entre 50 e 60 graus Celsius em terra e 40 graus na superfície dos mares (a título de comparação, a temperatura média atual da superfície dos oceanos no equador varia entre 25 e 30 graus Celsius).

Neste clima, os grandes peixes e répteis marinhos desapareceram das latitudes equatoriais, onde os mares passaram a ser habitados basicamente por pequenos moluscos, crustáceos e micro-organismos. Em terra, o cenário de devastação era similar, com as regiões polares apresentando o único refúgio ao calor extremo.
— Nunca antes alguém ousou afirmar que climas no passado tenham atingido tais níveis de aquecimento — diz Paul Wignall, professor da Universidade de Leeds e coautor do artigo. — Esperamos que o futuro aquecimento global não chegue nem perto das temperaturas de 250 milhões de anos atrás, mas se ele chegar, nós demonstramos que a recuperação da vida no planeta pode demorar milhões de anos.

Diferentemente do atual aquecimento global, associado ao aumento da emissão de gases do efeito estufa pela ação humana, como desmatamentos, queimadas e uso de combustíveis fósseis, a elevação da temperatura do fim do Permiano teria sido provocada por um súbito desequilíbrio no ciclo natural do carbono na Terra associado a uma intensa atividade vulcânica. Então, erupções maciças tomaram a região do que hoje é a Sibéria, na Rússia, liberando vastos depósitos geológicos de dióxido de carbono e metano, dois dos principais gases-estufa.


oglobo.globo.com

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