domingo, 19 de agosto de 2012

Operário que teve cabeça perfurada por vergalhão lembra acidente

Homem que teve cabeça perfurada por vergalhão lembra acidente
De acordo com os médicos, ele teve muita sorte. Se o vergalhão tivesse entrado um centímetro para trás, o pedreiro de 24 anos teria perdido os movimentos do lado esquerdo do corpo.

Um vergalhão atravessou a cabeça de Eduardo. Ele está vivo e bem. A imagem dele que você vê no vídeo foi gravada no sábado (18). A produtora do Fantástico entrou com a família dele, que autorizou a gravação no hospital em que ele continua internado.

“Eu lembro de ter amarrado o ferro e ter dado o sinal para o rapaz puxar o ferro lá de cima. Aí o rapaz puxou o ferro, aí quando ele puxou o ferro cheguei um pouco para o lado, o ferro foi, escapuliu, e caiu na minha cabeça”, lembra Eduardo.

Exatamente assim, como mostra a tomografia tridimensional feita no crânio de Eduardo que você vê no vídeo. De acordo com os médicos, ele teve muita sorte. Se o vergalhão tivesse entrado um centímetro para trás, o pedreiro de 24 anos teria perdido os movimentos do lado esquerdo do corpo.

“É como se o anjo da guarda dele tivesse de plantão naquele momento. Então, foi milimetricamente projetado para não passar por nenhuma área vital ou de função bem definida”, explica o chefe do Setor de Neurocirurgia do Hospital Miguel Couto, Ruy Monteiro.

Na quarta-feira (15), Eduardo estava agachado usando capacete quando foi atingido pelo vergalhão. O objeto caiu do quinto andar, de uma altura de 15 metros. Tinha dois metros de comprimento e com a queda o impacto na cabeça do operário foi de aproximadamente 300 quilos.

O vergalhão entrou pelo alto da cabeça e atravessou a região entre os olhos. Essa é a chamada área pré-frontal do cérebro, responsável por funções associadas ao comportamento.

A cirurgia de remoção durou cerca de seis horas. Os médicos abriram parte do crânio e puxaram o vergalhão de cima para baixo. Se puxassem pelo sentido contrário haveria risco levar material contaminado do nariz para dentro do cérebro.

Diante da boa evolução do caso, havia previsão de que Eduardo fosse transferido neste domingo (19) para o quarto, Mas os médicos decidiram mantê-lo no CTI. Avaliaram que o risco de infecção ainda é grande e assim o paciente fica mais protegido.

Se tudo continuar correndo bem, Eduardo deverá receber alta nos próximos dez dias, mas só depois que ele retomar a rotina é que os médicos e a família poderão saber se o acidente deixou alguma sequela ou não.

“Ele pode vir a apresentar uma liberação do humor, ou seja, ele ficar mais engraçado do que ele era habitualmente. Ele pode também alterações depressivas, ele pode ter uma dificuldade de planejar o seu futuro, de relacionamento com a família, com os amigos, algumas alterações desse gênero”, avalia o médico.

Eduardo é casado há dez anos com Lílian, com quem tem dois filhos pequenos. Moram em uma casa de dois cômodos, prestes a aumentar de tamanho. Mas a reforma agora vai ter que esperar um pouquinho.

“A gente ia fazer o banheiro aqui e tirar o banheiro de dentro da cozinha. Aumentar, arrumar a casa, deixar a casa bonitinha para as crianças”, conta Lílian.

A mãe de Eduardo, Dona Lourdes, não perde o horário de visita no hospital: “Até a pé se for possível eu venho. Eu quero ele em casa, ele estando em casa, para mim, é melhor”, diz Maria Duarte.

Os médicos estão otimistas e Eduardo se recupera muito bem. Melhor a cada dia. “Ele está muito bem, muito bem. Está comendo, feijão, arroz. Não tem febre. Está bem, graças a Deus, está bem o meu filho”, comemora Dona Lourdes.


E agradecida: “Deus foi muito bom na vida dele e os médicos, uma benção. Uma benção!”, agradece.
Fantástico

Caso o objeto estivesse 1 centímetro mais para trás, Eduardo poderia teria ficado com o lado esquerdo paralisado. Um pouco mais, e não mexeria os braços e as pernas. Também poderia haver perda da sensibilidade e da percepção de temperatura.

Além disso, se a barra tivesse entrado 1 centímetro para a direita, o operário teria perdido um olho. A sorte é que nenhuma estrutura importante de veias e artérias foi prejudicada.

"A ciência ainda não conhece claramente a função dessa área afetada, não é nítida. Mas não adianta fazer testes nessa fase, isso fica para a reabilitação. Se tiver alguma alteração percebida pela família que atrapalhe a vida do paciente, aí serão indicados exercícios específicos de neuropsicologia", detalha Monteiro.

Segundo o neurocirurgião Nilton Lara Junior, da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, se fosse se manifestar alguma sequela grave, isso ocorreria imediatamente. Com o tempo, a tendência da situação cerebral é melhorar, e não piorar.

"Mas, como não existe nenhuma parte 'silenciosa' ou sem função no cérebro, esse rapaz precisa passar por uma avaliação posterior", reforça Lara Junior.

Entre as áreas do operário que podem ter sido comprometidas, o médico cita o raciocínio, a memória e a localização espacial ou temporal. Além disso, pode haver alterações na capacidade de controle das emoções, como demonstrações exacerbadas de sentimentos ou a redução de manifestações afetivas.

"Não é que a pessoa vai perder essa função, mas pode ficar pouco emotiva", diz o neurocirurgião.

Lara Junior compara o cérebro com outros órgãos do corpo e ressalta que, enquanto as células do fígado, por exemplo, fazem basicamente a mesma coisa, cada região cerebral tem uma ação específica, motivo pelo qual às vezes uma lesão muito pequena pode causar danos enormes. E também pode acontecer o contrário, como nesse caso.

Como foi a cirurgia
Eduardo foi atendido no local do acidente, teve a barra de ferro serrada (ficou com 1,2 m) e foi encaminhado para o Miguel Couto.

Ao chegar, passou por uma avaliação, foi estabilizado clinicamente e fez uma tomografia do cérebro, que mostrou com precisão onde o objeto estava alojado e como deveria ser feita a cirurgia, que acabou durando 5 horas.

Após a anestesia geral do paciente, a equipe médica limpou e escovou o vergalhão durante 25 minutos com uma solução de sabão e um antisséptico. Uma tampa do crânio foi aberta para visualizar o tamanho da lesão. Os cirurgiões aplicaram soro fisiológico para limpar a área e acabaram tirando o objeto por baixo, próximo ao nariz, para evitar um maior risco de contaminação.

"Esse foi o momento mais crítico, pois poderia haver alguma lesão vascular e hemorragia", lembra Monteiro.
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Pelas próximas duas semanas, Eduardo vai receber antibiótico na veia para prevenir infecções, já que a barra que entrou na cabeça dele estava suja. A internação também deve durar mais ou menos esse período, segundo o neurocirurgião.

"Agora, passadas mais de 48 horas da operação, o risco é menor. E, depois das primeiras 72 horas, é pouco provável que ele tenha inchaço no cérebro", diz Monteiro.

O médico conta que Eduardo já está lúcido e conversando normalmente. Assim como outros pacientes com esse tipo de trauma, ele vai precisar fazer um acompanhamento no local, mesmo após receber alta. Em geral, são seis meses.

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