sexta-feira, 8 de junho de 2012

Vovô tem caixão para enterro, chega aos 111 e terá que comprar outro novo

Homem de 111 anos guarda caixão em casa há 9 no Entorno do DF
Sem condições de uso, aposentado já encomendou nova urna funerária.
Maranhense também comprou calça e paletó que quer usar em velório. 

Leocádio Rodrigues de Lima, de 111 anos
Um homem de 111 anos, morador de Santo Antônio do Descoberto, cidade no Entorno do Distrito Federal, guarda em casa, desde 2003, o caixão em que quer ser enterrado. À espera da morte, o maranhense Leocádio Rodrigues de Lima também separou a calça, o paletó e a gravata que quer usar no próprio velório.
"Comprei o caixão para poder ficar dentro quando eu morrer", disse o aposentado, que pagou R$ 950 pela urna funerária guardada num barraco no quintal da casa onde mora. O caixão divide espaço com telhas, caixas e madeiras.
De acordo com a aposentada Maria Lúcia Cardoso, que toma conta de Lima, o caixão está tão velho que não poderá mais ser usado. Ela disse que o maranhense chegou a "provar" o caixão várias vezes na época da compra.

"Ele ficava lá dentro com o travesseirinho para ver se era confortável", disse Maria Lúcia. "Agora ele fala, brincando, que vai usar o caixão para plantar cebola, mas tem outro igual reservado na funerária para quando ele morrer."
Apesar de estar se preparando para a morte há pelo menos nove anos, Lima diz ainda ter planos de vida. "Quero ter meia dúzia de namoradas e mais uns quatro filhos", afirmou.
A mais velha dos dois filhos vivos de Lima, Isabel da Rocha, de 83 anos, disse que o pai chegou a Brasília em 1957, antes da inauguração da cidade. Ele começou trabalhando com a derrubada de árvores na área que hoje é ocupada pelo Lago Paranoá, criado artificialmente no período da construção da nova capital federal.
Caixão é guardado em barraco no quintal junto com
caixas, madeiras e telhas (Foto: Felipe Néri/ G1)
"Quando vim para Brasília eu fazia todo o desmatamento do lugar onde fica aquele lago. Tirava a madeira que depois era levada para a Novacap [Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil]. Depois, fiz tijolos", disse Lima.
Desejos
Apesar do estado de saúde estável e de nunca ter tido problemas cardíacos, Lima não enxerga nem ouve bem e sofre de um problema na próstata que o obriga a usar uma sonda para urinar.
Há dois anos ele deixou de andar sozinho. As caminhadas entre os cinco cômodos da casa e em direção ao quintal são feitas com a ajuda de Maria Lúcia. A filha Isabel só consegue mover o pai quando ele é colocado numa cadeira de rodas, doada. "Tenho fé que ainda volto a caminhar sozinho, com os poderes de Deus", disse Lima.
Leocádio Rodrigues de Lima, de 111 anos, ao lado da roupa que quer usar no próprio velório (Foto: Felipe Néri/G1)
"O que eu mais queria na minha vida? Queria voltar a tocar sanfona, dançar, ter os meus cavalos na roça e os meus companheiros para conversar, só que eles não aparecem mais. Também tocava taboca [pífano] com meus companheiros, mas eles desapareceram, morreram", afirmou.
Segundo Maria Lúcia, o aposentado sofre com a saudade das duas mulheres que teve. A primeira, mãe de Isabel e do outro filho dele, de 73 anos e que mora em Tocantins, morreu em 1975. "Às vezes, ele olha para a foto dela e pergunta quando ela vem buscá-lo", disse Maria Lúcia.
A segunda mulher, com quem Leocádio viveu por 33 anos após ficar viúvo, causa mau humor no aposentado quando seu nome é mencionado. Ela foi levada pelos filhos para morar com uma neta no Gama, a cerca de 40 quilômetros de Santo Antônio do Descoberto, depois que Isabel começou a sentir dificuldade para cuidar do pai e da madrasta.
"Não dava mais conta de cuidar dos dois. Pedi para os filhos dela pagarem alguém para cuidar dela, mas eles preferiram levá-la", disse a filha de Lima. Isabel afirma não querer viver tanto quanto o pai. "Não quero chegar aos 111 anos. Isso dá muito trabalho para os outros", afirmou a mulher, que também tem a audição debilitada.
O bisneto mais velho do aposentado, o servidor público Gleidimar Ferreira, de 44 anos, espera que o bisavô alcance um recorde. "Cada vez torço para ele fazer mais anos e chegar ao livro Guinness como o mais velho do mundo." De acordo com o livro dos recordes, o homem mais velho vivo no mundo é o japonês Jiroemon Kimura, que completou 115 anos em abril de 2012.
Apesar de já estar preparado para o enterro, Lima diz não ter pressa. "Quantos anos eu quero viver? Vou viver o que Deus me der. Quanto mais, melhor. Para onde ele me levar, eu vou. Ele deve saber para onde eu vou." (G1)



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