domingo, 3 de junho de 2012

RJ. Gangues ameaçam, fecham ruas e invadem casas para resgatar balões

Gangues ameaçam, fecham ruas e invadem casas para resgatar balões 
Baloeiros foram flagrados infringindo leis ambientais. Grupo divulga na internet as imagens das quedas dos balões.
Nos meses de maio, junho e julho, o número de balões aumenta no céu, pondo em risco cidades inteiras. Nas ruas, os baloeiros fazem ameaças, fecham ruas e invadem casas para conseguir resgatar os balões que caem, conforme mostrou o Fantástico neste domingo (3).
Em Piedade, no subúrbio do Rio de Janeiro, imagens feitas pelo Fantástico mostram que os baloeiros não respeitam nenhuma lei para resgatar o balão que vai caindo em uma rua residencial. Uma caminhonete entram na contramão, motos seguem pela calçada e um homem desvia para não ser atropelado. As imagens ainda mostram que os motoqueiros não usam capacete e cobrem a placa da moto com um plástico.
Um balão pegou fogo em cima da rede elétrica, mas não aconteceu um curto-circuito. Os restos dos balões ainda são disputados entre os baloeiros. Outro grupo invadiu casas para tentar pegar a bandeira de um balão que caiu no telhado. Eles não conseguem o que querem e, para descer, se penduram na área de serviço da casa.
Em outro bairro da Zona Norte do Rio, o Fantástico fez mais um flagrante. Um baloeiro subiu na varanda de uma casa, enquanto o resto da quadrilha esperava o balão cair. O morador assiste tudo pela janela, sem poder enfrentá-los.
Sempre durante a madrugada, os grupos preparam os balões. Em outra região do Rio, em um local cercado de matas, um balão de 20 metros de altura voou, carregando muitos fogos de artifício.
Crimes ambientaisOs baloeiros fazem questão de registrar tudo com fotos e vídeos. Eles divulgam as imagens na internet, inclusive quando o balão pega fogo. Além disso, o grupo também usa a rede para vender balões. Existem ainda os vendedores nas ruas, como um flagrado na manhã deste sábado (2) pelo Fantástico. Ele vende rifas e o vencedor leva o balão.
Há uma feira que acontece todos os sábados no mesmo local, onde, além de balões, ocorre a venda DVDs e catálogos.
Pelas leis de crimes ambientais, é proibido fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar incêndios, não importa onde. A pena para o crime chega a três anos de prisão, mas o criminoso também pode pagar multa.
Invasão de condomínio
Como mostraram as imagens, um balão caiu no telhado de uma casa na Taquara, na Zona Oeste do Rio, antes das 8h de um sábado. Os baloeiros invadiram o condomínio e foram para o telhado, não desistindo nem depois que o balão pegou fogo. Eles queriam um pedaço da bandeira, que ficou preso na grade da casa e acabou pegando fogo também.
O morador só percebeu o que estava acontecendo depois que o grupo já tinha saído. “Estava dormindo com o meu filho. Acordei com a gritaria, um movimento na rua, um falatório, quando ouvi o pessoal gritando 'vai cair, vai cair'. Levantei correndo, minha mãe estava assustada com a gritaria também. Quando eu vi, não tinha mais balão. Já estava pegando fogo em cima da casa, inclusive o vizinho avisou que tinha bucha acesa. Eu fui, verifiquei, peguei a mangueira, e fui apagar fogo em cima do telhado”, contou o auxiliar administrativo.
Para conseguir entrar no condomínio, o grupo de baloeiro fez ameaças. “Tinha um montão deles, mais de 100 atrás do balão. Eles entraram e fizeram esse ‘fuzuê’ todo dentro do condomínio. Dois deles chegaram a mostrar a arma, o restante não sei como é que estava, também não quis saber. A única coisa que quis fazer foi salvar minha pele”, contou um senhor que não quis se identificar.
Ação até no mar
Os grupos também usam lanchas para recuperar os balões que caem no mar. Na Baía de Guanabara, os barcos perseguem balões que passam próximos ao Aeroporto Santos Dumont. A torre de comando avisa aos pilotos onde e em que altitude eles estão localizados.
Do lado de fora da Baía de Guanabara, a equipe de reportagem flagrou o momento em que três barcos cercam o balão. Um deles o coloca dentro da embarcação, usando bambus em volta do barco, para não danificar o balão. Esses bambus servem como uma cesta para segurá-lo.
De acordo com o artigo 261 do Código Penal, é crime colocar em perigo embarcação ou aeronave e impedir qualquer tipo de navegação. A pena chega a cinco anos de prisão. “Esses balões, uma vez que são soltos, não se tem o controle, o quanto eles sobem, para onde eles vão. Então, eles se tornam pedras no caminho das aeronaves”, afirmou o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).
Queda na rede elétrica
A equipe do Fantástico foi ao setor de treinamento de uma empresa de energia elétrica do Rio, acompanhados pelo Corpo de Bombeiros, para mostrar também o que acontece quando um balão, mesmo apagado, cai na rede elétrica.
Uma câmera especial, que é capaz de medir a temperatura do fogo, foi usada para calcular o calor produzido pela bucha de um balão. O coronel André Vidal viu as imagens e afirmou que, no local onde pega fogo, a bucha chega a registrar 800°C. Ele explicou ainda que esse calor é capaz de derreter inclusive alumínio.
Balões 'ecológicos'
No Brasil, há um movimento que incentiva a soltura de balões supostamente ‘ecológicos’, que não possuem buchas. Eles são inflados com ar quente, e o calor do sol ajuda a mantê-los no ar. Mas, se caírem em uma rede elétrica, o estrago é o mesmo.
Em uma simulação feita pelo Fantástico, técnicos soltaram um balão, que estava preso a uma cordinha. Ele bateu na fiação, saíram faíscas e foi ouvido um estouro. “Esse curto-circuito é capaz de romper os cabos. E ao romper os cabos, a falta de energia é imediata”, afirma Light.
Se o balão sem bucha cair sobre um transformador, os danos são ainda maiores. “Nos últimos três anos, foram em torno de 40 ocorrências nessas redes urbanas, deixando em média 80 mil clientes sem energia”, aponta Light.
Os baloeiros alegam que os balões ecológicos, como não carregam fogo, estão dentro da lei, mas a Aeronáutica negou. “Esses balões são ecológicos sob o ponto de vista de não pegarem fogo, mas eu diria que eles não são ecológicos, porque eles poluem os céus e podem vir a derrubar uma aeronave”, declarou o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).
Festival de balões em São Paulo
Na manhã deste domingo, um festival de balões sem bucha foi realizado em Itapecerica da Serra, no interior de São Paulo, com a presença da Polícia Militar. A prefeitura afirmou que um documento foi entregue ao Serviço Regional de Proteção ao Voo de São Paulo. Segundo o documento, os balões ecológicos ficam até 40 minutos no ar e, por causa da velocidade dos ventos previstos para este domingo na região, eles não chegariam perto dos aeroportos de Guarulhos, Congonhas e Viracopos.
“Não teve nenhum tipo de manifestação”, declarou Rosana de Moraes, da Secretaria de Cultura de Itapecerica da Serra.
Entretanto, para o Cenipa, festivais assim não podem ser realizados. “Se for um festival com balões tripulados, eles precisam de autorização, sim, para que seja feita toda aquela coordenação que vai resultar em um nível de segurança na atividade. Os balões que não levam pessoas são crime. Com esses, não há como pedir autorização para executar uma atividade criminosa", declarou o órgão. 


G1 RJ 

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