quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Malvinas: as ilhas da discórdia

Malvinas: as ilhas da discórdia
Quase 30 anos após conflito, tensão entre argentinos e britânicos volta a crescer pela soberania das ilhas do Atlântico Sul 


Quase trinta anos depois, um pequeno arquipélago no Atlântico Sul formado por duas ilhas principais e outras 700  menores, numa área total  de 12.173 km2, está novamente em destaque no noticiário internacional. Malvinas, para os argentinos, cujo litoral fica a apenas 480 quilômetros do lugar. Falklands, para os britânicos, que administram as ilhas desde 1883, tempo em que ainda eram um grande império.

foto: AE
O príncipe William foi enviado às ilhas do Atlântico Sul para treinamento militar

“O que a Argentina tem dito parece ser colonialismo, porque o povo (das ilhas) quer permanecer britânico, e os argentinos querem que eles sejam outra coisa”
David Cameron, primeiro-ministro britânico
Em 1982, a Argentina deu o primeiro passo em uma guerra pela posse do território. A Grã-Bretanha venceu o curto e sangrento conflito, declarado após o regime militar argentino enviar tropas para invadir as ilhas em 2 de abril de 1982. Em 14 de junho, as forças argentinas se renderam, após a morte de 649 soldados argentinos e 255 militares britânicos. A derrota, de fato, nunca foi aceita pelos argentinos.

A relação entre os dois países está particularmente mais tensa desde uma cúpula do Mercosul, realizada em dezembro passado em Montevidéu, na qual Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai decidiram impedir a entrada de embarcações com bandeiras das ilhas Malvinas em seus portos. “Quero agradecer a todos a imensa solidariedade para com as Malvinas, e saibam que quando estão firmando algo sobre as Malvinas a favor da Argentina também o estão fazendo em defesa própria”, destacou a presidente argentina, Cristina Kirchner.



A resposta britânica foi rápida: no fim de janeiro, o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, informou ao Parlamento britânico que convocou o Conselho Nacional de Segurança para debater a questão e acusou a Argentina de "colonialismo" por reivindicar a soberania das ilhas. E neste mês o príncipe William, segundo na linha de sucessão à coroa britânica, viajou para as Malvinas para participar de treinamentos como piloto de helicóptero de resgate. O governo argentino encarou como uma provocação a presença do membro da família real no arquipélago. Ontem, foi anunciado que vários deputados do Reino Unido viajarão para as Malvinas em março. Será a primeira visita da Comissão de Defesa da Câmara dos Comuns desde 1999, realizada algumas semanas antes do aniversário do início do conflito.

foto: AE
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Na Argentina, oposição e governo se uniram para pedir  a soberania sobre as Ilhas Malvinas
Na última sexta-feira, o governo da Argentina acusou o Reino Unido de enviar armas nucleares para as ilhas e de manter no arquipélago um sistema militar de controle do Atlântico Sul, desde a Amazônia até a Antártida e desde a costa oriental sul-americana à costa ocidental africana, assim como os acessos entre os oceanos Atlântico e Pacífico e Atlântico e Índico. A denúncia foi feita  pelo ministro de Relações Exteriores da Argentina, Héctor Timerman, na sede da ONU, em Nova York.

Timerman apresentou um documento detalhado da ação militar britânica nas Malvinas, que aponta o aumento da presença das Forças Armadas na região. "O orçamento militar inglês foi reduzido em todo o mundo, menos nas Malvinas", acusou o chanceler durante entrevista coletiva que foi transmitida ao vivo pelas emissoras de TV da Argentina. Segundo ele, "os exemplos mais notáveis da militarização por parte do Reino Unido são a recente incorporação ao sistema bélico das Malvinas de um destroier HMS Dauntless tipo 45 e de aviões Typhoon II com mísseis Taurus e o envio de um submarino nuclear".

O submarino com propulsão nuclear, segundo detalhou o ministro, tem capacidade para transportar armamento nuclear. "Informações recebidas pela Argentina através de fontes indicam que se trataria do submarino Vanguard", disse ele, queixando-se da falta de confirmação do governo britânico sobre o assunto. Timerman também disse que os aviões Typhoon Eurofighter, que realizam exercícios na base aérea das Malvinas, são do mesmo modelo usado na Líbia, no Afeganistão e no Iraque.

"Por que esse tipo de avião se encontra na nossa região? Nenhum país da América do Sul dispõe dessa capacidade bélica", reclamou o ministro argentino. Ele disse que os pilotos britânicos são treinados nesses aviões para depois ser enviados a zonas de conflito. Timerman disse ainda que os britânicos estão realizando no arquipélago provas com o míssil Taurus, com um alcance de até 500 km. "Combinado com o avião Typhoon II, o míssil se transforma na arma mais ofensiva e letal em operação no Atlântico Sul, que pode alcançar grande parte da Argentina e do Chile, o Uruguai e o Brasil", afirmou.

"O Reino Unido usa a infundada defesa da autodeterminação de 2 500 habitantes das ilhas como desculpa para o estabelecimento de uma poderosa base militar, que serve aos seus interesses estratégicos no Atlântico Sul", disse o ministro. Nesse sentido, Timerman reiterou o apelo de seu governo para que o Reino Unido cumpra determinação da ONU de sentar-se para negociar uma solução pacífica e definitiva para a disputa em torno da soberania sobre as Malvinas.

Na última terça-feira, o governo argentino aceitou oficialmente que o presidente da Assembleia Geral da ONU, Nassir Abdulaziz Al-Nasser, coordene eventuais negociações com o Reino Unido na disputa sobre a soberania das Ilhas Malvinas.

foto: Divulgação
O conflito das Malvinas, em 1982, durou 74 dias

Sean Penn toma partido da Argentina

O ator norte-americano Sean Penn está acusando a imprensa britânica de pressionar por uma guerra em vez do uso da diplomacia para resolver a disputa. Ele afirmou ainda que os jornalistas britânicos haviam distorcido as declarações dele no dia anterior em apoio à pressão da Argentina por um acordo negociado pela ONU.  Penn classificou a presença do príncipe William como uma provocação.


Petróleo
Na quarta-feira da semana passada, a presidente Cristina Kirchner havia dito que a região possui a maior reserva de recursos naturais do planeta e que as guerras futuras serão por esses recursos. Em 2010, a Desire Petroleum, uma empresa britânica, iniciou a perfuração de um campo de prova para a extração de petróleo nas ilhas.

O Serviço Britânico de Medições Geológicas estimava que poderia haver até 60 bilhões de barris de petróleo sob as águas do arquipélago (três vezes o total das reservas americanas de petróleo). Na época, a Argentina ameaçou tomar "medidas adequadas" para impedir a exploração, por violar sua soberania, e impôs restrições à navegação no entorno da ilha. As águas no entorno das Malvinas são consideradas pela Grã-Bretanha como território britânico além-mar.

No entanto, no fim do mês passado, o ministro britânico de Energia, Chris Huhne, afirmou  que os resultados das primeiras explorações de petróleo na região foram "decepcionantes", mas disse que a situação pode mudar no futuro. Uma dúvida que não faz diminuir o interesse de ambos os lados pelo arquipélago. (Das agências)
A Gazeta ES



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