domingo, 11 de setembro de 2011

Atentados do 11 de setembro: dez anos em uma nova rota


11 de setembro: dez anos em uma nova rota

No aniversário dos ataques, dez mudanças que ocorreram no planeta após a queda das Torres Gêmeas em Nova York




foto: Michal Krumphanzl/AP Photo
Criança abraça painel com uma das Torres Gêmeas em chamas em cerimônia dos 5 anos do atentado, em 2006.


O mundo não foi mais o mesmo desde o 11 de setembro de 2001: o mais espetacular atentado suicida de todos os tempos matou 2.976 pessoas. O ataque coordenado, há exatos dez anos, foi lançado contra Nova York, capital financeira dos EUA, e Washington, centro do poder político e militar do país.

Naquele mesmo dia, inesquecível para qualquer pessoa "conectada" com as notícias do mundo, soube-se que a História ganhava, então, novos rumos. O 11 de Setembro mudou a postura dos Estados Unidos diante do planeta, provocou guerras, estimulou a intolerância e a paranoia. Ao mesmo tempo, fez emergir uma vulnerabilidade até então desconhecida dos norte-americanos, talvez até servindo como uma lição de humildade. Pode não parecer, mas muita coisa mudou. Nos textos a seguir, A GAZETA selecionou dez consequências dos atentados.

Hoje, os Estados Unidos vão parar para lembrar os ataques. Em Nova York, Washington D.C. e Pensilvânia ocorrerão as principais homenagens. Em Nova York, o presidente Barack Obama estará junto ao seu antecessor, George W. Bush.

O World Trade Center representava a economia dos EUA - as duas maiores torres desabaram. Ironicamente, uma das consequências mais visíveis daquele dia é exatamente a crise econômica que o país atravessa atualmente. Um peso inesperado para a ainda maior economia do planeta.

O Pentágono era o poder militar - uma face do edifício foi destruída. Após os ataques, os Estados Unidos entraram de cabeça em duas frentes de guerra - no Iraque e no Afeganistão - em que sofreram perdas humanas e econômicas.

A caçada ao milionário saudita Osama bin Laden, chefe da rede terrorista Al-Qaeda que financiou os ataques, levou quase dez anos para alcançar seu objetivo: no último dia 1º de maio, ele foi assassinado por tropas americanas no Paquistão. Mas, definitivamente, os rastros do 11 de Setembro não se apagarão com a sua morte.

Mudança na política externa
Atualmente, os EUA ainda se veem diante de um cenário alterado no mundo árabe pela deposição de regimes ditatoriais - a chamada Primavera Árabe destronou alguns históricos aliados dos EUA - e por uma carência inédita de recursos necessários para agradar a seus parceiros e tocar a sua política exterior.

Em entrevista à Agência Estado, Michael Mandelbaum, professor de Política Externa Americana da Johns Hopkins University considerou inevitável o recuo nas ambições diplomáticas e apontou, como vítima imediata, a política de construção de nações - a cooperação com injeção de divisas para consolidar governos democráticos em países em que os militares dos EUA atuaram.

Cresce a islamofobia no mundo

Os atentados que destruíram o World Trade Center e atingiram o Pentágono mudou a forma como os americanos - e o Ocidente - percebem os devotos do Islã. Alguns muçulmanos inocentes começaram a ser alvo de ataques nos EUA, apesar de o governo de George W. Bush sempre defendê-los, martelando, desde o dia dos atentados de 2001, que "o Islã era uma religião da paz, e não do ódio".

Com a chegada de Barack Obama à Casa Branca, o cenário se agravou e a islamofobia - o ódio ou aversão aos muçulmanos - aumentou. O novo presidente era negro e filho de pai muçulmano.

Mais de um quarto da população muçulmana nos EUA diz ter sido alvo de alguma forma de preconceito em 2011, de acordo com pesquisa do Pew Research Center.
foto: Jerome Delay/AP Photo

Uma década de guerras sem sentido

Imediatamente após os ataques, os EUA iniciaram a "Guerra ao Terror": primeiro no Afeganistão - inicialmente para derrubar o governo talibã que acobertava a Al-Qaeda - e, em 2003, no Iraque, com a justificativa de que Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa, nunca encontradas. Seu governo foi derrubado; Saddam acabou condenado e enforcado em 2006.

Ao longo desta primeira década, 6.220 soldados americanos morreram nos fronts do Iraque e Afeganistão. Cerca de 100 mil soldados americanos ainda estão no Afeganistão. Já os iraquianos continuam imersos na violência e na incerteza do caminho para a democracia, enquanto tentam reconstruir o país.
Muitas reações desmedidas
Para alguns analistas, a decisão americana de lançar imediatamente uma guerra contra o terrorismo acarretou consequências ainda mais nefastas que os atentados em si.

"Houve um momento, causado por uma espécie de síndrome nacional de estresse pós-traumático, no qual os Estados Unidos aceitaram todas as reações exageradas do governo Bush", explica David Rothkopf, da organização Carnegie Endowment for International Peace.

Maus tratos a prisioneiros nos cárceres de Abu Ghraib, no Iraque, degradaram a imagem dos Estados Unidos, assim como torturas de suspeitos de terrorismo denunciadas na prisão de Guantánamo. Nos EUA, a Lei Patriota foi acusada de ter causado entraves às liberdades, reduzindo o alcance da privacidade.

Um novo World Trade Center

O local dos ataques em Nova York, batizado de Marco Zero, terá um memorial e um museu. O projeto do novo World Trade Center tem só um edifício concluído: o WTC 7. A torre principal, já com 75% construída, alcançará 541m, tornando-se o prédio mais alto dos EUA. As obras terminarão em 2015 e custarão US$ 11 bilhões.

Al-Qaeda lança mais ataques

A Al-Qaeda levou o terror também à Europa, com os ataques aos trens de Madri, em 2004, e ao sistema de transporte em Londres, no ano seguinte. A União Europeia acabou seguindo as políticas antiterroristas adotadas pelos EUA. Com a morte de Osama bin Laden, o continente voltou a ser um alvo potencial do grupo.

Novas regras para voar

Nos aeroportos em todo o mundo, muita coisa mudou após os ataques. Nos Estados Unidos, foi criada uma agência, a Transportation Security Administration (TSA), para cuidar da segurança aérea. Restrições no transporte de determinados objetos a bordo foram feitas em todos os voos. Nos EUA e na Europa, o uso de um raio-x de alta tecnologia - o backscatter (escâner corporal) - levantou polêmica ao gerar imagem das pessoas nuas. Na prática, as medidas deram certo: os EUA não sofreram mais nenhum grande atentado.
foto: Divulgação

Realidade e escapismo dividem as telonas

Qualquer que seja a avaliação posterior de um fato histórico como o ataque aos EUA, ela não poderá incluir entre seus subprodutos o aparecimento de grandes filmes. Alguns, no entanto, são bem razoáveis.

"Voo United 93", de Paul Greengrass, talvez seja o mais bem-sucedido da safra. Como não se sabe exatamente aquilo que se passou no avião desviado para Washington, o diretor ficou livre para presumir. E assim inventou o que lhe parece ser a verdade provável: que um grupo de passageiros, heroicamente, tentou dominar o grupo de sequestradores, houve luta e o avião acabou caindo antes de atingir seu alvo.

Em entrevista recente à GAZETA, o jornalista e escritor Daniel Piza disse que o cinema pós-11 de Setembro se voltou para narrativas mais realistas, mas não abandonou a fantasia. "Aumentou também a necessidade do escapismo presente nessas fantasias infanto-juvenis recheadas de magia e em filmes baseados em histórias em quadrinhos. Existe um movimento de alienação e escapismo."
Nos livros, diversas teorias

Os atentados derrubaram as Torres Gêmeas, mas construíram diversas teses e opiniões sobre o assunto - do complexo "Perpetual War for Perpetual Peace", de Gore Vidal, ao básico e recentemente lançado "Compreender o 11 de Setembro" (Editora Babel), do escritor português Vasco Rato, escrito após a morte de Osama bin Laden. Vidal escreveu seu livro no calor da hora, em 2001, causando escândalo por defender que o ex-presidente George W. Bush tirou partido dos atentados para reprimir liberdades civis dos americanos. Um dos melhores livros sobre o tema, "O Vulto das Torres", do jornalista Lawrence Wright, faz um apanhado geral dos fatos que levaram aos atentados.

Derrocada econômica dos EUA

Em 11 de setembro de 2001, a economia dos EUA mostrava-se vigorosa, com expansão de 3,4%, o desemprego não chegava a 5% e o superávit nas contas públicas equivalia a 1,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Os consumidores pareciam insaciáveis e confiantes, tomando crédito para novas compras e hipotecas. Tropas americanas não estavam envolvidas em combates, e o jogo de forças internacionais parecia consolidar a ordem unipolar.

Os dois fronts de guerra abertos no mundo islâmico e o incentivo interno à concessão de crédito imobiliário, para movimentar a economia após os ataques, e à ausência de regulação mais estrita para o setor financeiro foram as raízes da crise de 2008 e da maior recessão enfrentada pelos EUA desde 1930.

Abalados pelo rebaixamento da nota de crédito de longo prazo e a instabilidade política, os EUA estão à beira de uma nova recessão, a segunda em apenas três anos, diante de uma taxa de desemprego de 9,1% e a apenas 14 meses da eleição presidencial.





A Gazeta

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