domingo, 17 de abril de 2011

Internautas cada vez mais bocas sujas

Em quatro dias, foram 38 mil postagens com insultos, quase metade do total analisado

A Gazeta  - Elaine Vieira       
A internet está mal-educada. Em apenas quatro dias de monitoramento, a empresa MITI Inteligência levantou mais de 38 mil postagens com palavrões e insultos, a maioria deles em redes de relacionamento como o Twitter e o Facebook. O número equivale a quase metade de tudo o que foi analisado nesse período, cerca de 71 mil mensagens.
Palavrões

Diversas palavras de baixo calão atribuídas a marcas, empresas,
produtos ou pessoas foram monitoradas durante quatro dias em diversas
redes sociais

Twitter: Dos 38.979 posts analisados, 20.846 tinham palavrões, ou seja, 53.96%

Facebook: Dos 28.540 posts monitorados, 15.881 tinham palavrões, ou seja, 41,11%

Outros 1.906 posts ofensivos foram encontrados em blogs, YouTube, fóruns

e sites de reclamações, totalizando 38.633 em 4 dias

Assuntos
No período foram levantadas 233 notícias sobre bullying

Sobre preconceito, foram 6.456 interações

Racismo é a segunda palavra com maior volume de menções, com 4.504 citações


E são diversos os alvos dos insultos. As mensagens analisadas estão relacionadas a empresas, marcas, personalidades e até pessoas comuns, sempre atribuindo nomes e referências.

"Pessoas comuns abrem seus perfis nos canais de relacionamento, criam identidades virtuais e expõem opiniões e experiências de forma aberta e muitas vezes intempestiva. Os comentários na rede estão cada vez mais inflamados, e os usuários não se intimidam ao se referir a qualquer um utilizando os mais diversos termos pejorativos", comenta Elizangela Grigoletti, gerente de Inteligência e Marketing da MITI Inteligência e responsável pela pesquisa.

Para ela, na internet é muito comum ver pessoas ultrapassando a tênue linha que separa a liberdade de opinar da intolerância. "De certa forma, essa possibilidade (de ser ouvido nas redes e não ser ouvido nos órgãos convencionais) cria uma falsa sensação de liberdade. É como se nas redes tudo pudesse ser dito sem nenhuma consequência. Por isso comentários e discussões que normalmente apresentam um tom mais neutro nas conversas pessoais agora geram reações intensas nos bate-papos virtuais ou perfis sociais", alerta.

Para ela, esse comportamento deve causar preocupação. "Até onde vai o seu direito de expressar sua opinião e onde começa o direito do outro de não ser exposto?", questiona.

A internet também é palco de conscientização sobre os problemas que ajuda a disseminar. Na pesquisa, também foram detectadas várias conversas sobre temas como bullying, preconceito e racismo, a maioria motivada por notícias relacionadas.

"Esses termos são comentados diariamente em todas as redes sociais em grande volume. Os internautas não deixam de opinar sobre o assunto, mostrando que aos poucos os valores da sociedade se alteram de forma geral, quando colocadas à prova em alguns casos polêmicos."

Análise
Efeitos reais para ações virtuais




Luciana Nunes

Psicóloga, especialista em relações pela internet. Responsável pelo site psicoinfo.com.br

É preciso analisar as relações na internet pelo tripé anonimato, descarga emocional e acessibilidade. Esses três fatores são os responsáveis pelos comportamentos exagerados nas redes sociais. O fato de permitir o anonimato ou a criação de uma nova personalidade virtual acaba deixando as pessoas mais à vontade para fazer coisas que não fariam num contato real. A internet vem se juntar ao riso, ao choro e ao sexo como situações que provoca alívio emocional, garantindo o equilíbrio do ser humano. Além disso, o fácil acesso a empresas e pessoas acaba dando essa impressão de proximidade e favorecendo exageros. Muita gente acha que, por não estar fisicamente presente, as ofensas não serão levadas para o lado pessoal, o que não é verdade. É preciso aprender a minimizar os conflitos, pois as consequências daquilo que é feito no mundo virtual são tão reais quanto as outras, como quebra de relacionamentos.

Comentários podem virar casos de polícia

É difícil controlar publicações na internet, mas a polícia já consegue localizar, retirar do ar e punir os responsáveis por comunidades ou comentários indevidos. Um exemplo aconteceu na última semana, quando surgiram comunidades no Orkut manifestando apoio ao atirador de Realengo, Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, que matou 12 crianças em uma escola no Rio de Janeiro. A primeira comunidade a surgir, criada por um adolescente, foi tirada do ar, mas outras foram criadas em seguida. Os responsáveis estão sendo chamados para prestar depoimento.

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