domingo, 10 de abril de 2011

Em busca da felicidade mundial: Iniciativa do Reino Unido pretende criar um movimento global por uma sociedade mais feliz

'Ação pela felicidade', no Reino Unido, pretende criar um movimento global por uma sociedade mais feliz


O mundo é cruel, as pessoas são más e nada faz sentido. Difícil não pensar assim diante dos acontecimentos dos últimos dias, como o massacre de crianças inocentes em Realengo, a tragédia do terremoto e tsunami no Japão, a guerra civil na Líbia etc. Enquanto isso, a busca da felicidade continua a ser encarada, na maioria das vezes, como um trabalho individual. Para ser feliz "EU" preciso de dinheiro, comprar o mais novo gadget tecnológico, ter um celular de última geração, um carro novo na garagem, uma casa bela e confortável, um trabalho gratificante, ser amado e respeitado. Poucas vezes as pessoas notam que sua felicidade também depende da do outro, se seu vizinho é feliz, se seu colega de trabalho está satisfeito, se todos têm a oportunidade de buscar a própria felicidade. Para mudar esse panorama, está sendo lançada no Reino Unido a Action for Happiness(Ação pela felicidade), iniciativa que pretende criar um movimento global por uma sociedade mais feliz.

A ideia da Action for Happiness é reunir sugestões e atitudes para que as pessoas realizem mudanças positivas em suas vidas, lares, escolas, trabalhos e comunidades de forma a espalhar a felicidade dentro de um processo que está sendo chamado de inovação social. É lembrar que, mesmo diante das maiores dificuldades, existem pessoas que conseguem ser felizes e ajudam outras, que a solidariedade, a compaixão e o amor ao próximo são instrumentos fundamentais para a construção de uma sociedade melhor.

No fim do século XIX, por exemplo, a ciência era um trabalho solitário. Em geral, os cientistas eram verdadeiros ermitões, atuando sozinhos ou com poucos colaboradores na produção de novos saberes. Com o tempo, no entanto, o cenário foi mudando. Já na primeira metade do século passado, muitas inovações saíram de grandes laboratórios montados por empresas, onde equipes de pesquisadores, trabalhando em conjunto, criavam novos produtos que rapidamente chegavam ao mercado. O avanço científico foi industrializado e marcas como IBM, General Electric, Bayer e Roche tornaram-se conhecidas mundo afora. Não demorou muito e os governos também se envolveram no processo, financiando pesquisas em instituições acadêmicas como o MIT, Stanford, Oxford e Cambridge que geraram novos conhecimentos que também ganharam o mundo para o benefício de todos.

Por outro lado, a inovação social continua a ser produzida como era a ciência do fim do século XIX. Não faltam mentes brilhantes e ideias geniais, mas em geral elas são frutos de iniciativas e buscas pessoais, como no caso de Muhammad Yunus. Vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2006, ele criou o Grameen Bank, que há mais de três décadas fornece pequenos empréstimos para agricultores pobres de seu país, Bangladesh. Muitos dos métodos usados por Yunus não eram novos. A novidade estava na maneira como eles foram agregados, invertendo as estruturas de poder e transformando camponeses em banqueiros, assim como muitas outras inovações sociais fazem de alunos, professores, de pacientes, médicos. De lá para cá, instituições de microcrédito similares ao Grameen Bank se espalharam pelo mundo, mudando a vida de pessoas em diversos países.

O sucesso de Yunus e de outras iniciativas do gênero também já começa a atrair a atenção dos governos para a questão do estímulo à inovação social. Nos EUA, o presidente Barack Obama criou na Casa Branca um pequeno escritório dedicado ao assunto, além de um fundo de US$ 650 milhões para a inovação na área de educação. Países como França e Austrália também estão financiando incubadoras de ideias de inovação social, enquanto a União Europeia está desviando parte de seu orçamento de pesquisa e desenvolvimento da criação de hardware para novos serviços que melhorem as vidas de seus cidadãos.

Até empresas estão atentas
Até mesmo as empresas estão começando a dirigir sua atenção ao tema. Um exemplo é o M-Pesa, serviço criado pela companhia de telefonia celular queniana Safaricom que realiza transferências de dinheiro entre pessoas físicas. Em 2007, a empresa, do grupo europeu Vodafone, percebeu a existência de um enorme mercado paralelo de minutos. Um queniano dono de um celular comprava créditos em minutos e os passava para outra linha, em um método informal de pagamento. A Safaricom então decidiu facilitar esse processo. Com o M-Pesa ("M" de móvel e "Pesa" de dinheiro em suahili, principal língua do país) um trabalhador de Nairóbi, capital do Quênia, que queira enviar dinheiro para a família que mora no interior compra os créditos e os transfere para os parentes, que podem ir a uma loja da empresa e trocá-los por dinheiro vivo. Este sistema bancário sem agências e de menor risco substituiu o principal meio usado pelos quenianos para isso até então - entregar um envelope cheio de dinheiro para motoristas de ônibus interurbanos - e já foi adotado por mais de 10 milhões de quenianos, um quarto da população do país, tornando-se um exemplo de inovação social que atende aos anseios das pessoas dentro de uma operação comercial.

A inovação social, portanto, pode crescer por meio da colaboração entre pessoas, empresas, governos e academia que a Action for Happiness quer estimular. A iniciativa não tem a ilusão de acabar com a tristeza no mundo, mas, como alertou Carlos Drummond de Andrade, "a dor é inevitável. O sofrimento, opcional".

Cesar Baima
A Gazeta

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