sábado, 26 de março de 2011

Engenheiros do Hawaii - Infinita Highway

O grupo Engenheiros do Hawaii tem uma longa história. Desde os anos 80 até o momento, apenas Humberto Gessinger permaneceu. Mesmo diante de tantas mudanças, o sucesso permanece e músicas antigas e inéditas se mantêm no gosto de fãs cativos. Para Humberto, essa relação com o público se deve, principalmente, às composições “abertas”, que permitem diversas interpretações.

Engenheiros do Hawaii - Infinita Highway

Você me faz correr demais
Os riscos desta highway
Você me faz correr atrás
Do horizonte desta highway
Ninguém por perto, silêncio no deserto,
Deserta highway
Estamos sós e nenhum de nós
Sabe exatamente onde vai parar

Mas não precisamos saber pra onde vamos
Nós só precisamos ir
Não queremos ter o que não temos
Nós só queremos viver
Sem motivos nem objetivos
Estamos vivos e isto é tudo
É sobretudo a lei
Dessa infinita highway

Escute garota, o vento canta uma canção
Dessas que uma banda nunca toca sem razão
Me diga, garota: "Será a estrada uma prisão?"
Eu acho que sim, você finge que não
Mas nem por isso ficaremos parados
Com a cabeça nas nuvens e os pés no chão
Tudo bem, garota, não adianta mesmo ser livre
Se tanta gente vive sem ter como comer

Estamos sós e nenhum de nós
Sabe onde quer chegar
Estamos vivos sem motivos
Mas que motivos temos pra estar?
Atrás de palavras escondidas
Nas entre linhas do horizonte
Desta highway(?) Silenciosa highway

"Eu vejo um horizonte trêmulo
eu Tenho os olhos úmidos"
"Eu posso estar completamente enganado
Posso estar correndo pro lado errado"
Mas "A dúvida é o preço da pureza"
É inútil ter certeza
Eu vejo as placas dizendo "Não corra"
"Não morra", "Não fume"
"Eu vejo as placas cortando o horizonte
Elas parecem facas de dois gumes"

Minha vida é tao confusa quanto a América Central
Por isso não me acuse de ser irracional
Escute garota, façamos um trato:
"Você desliga o telefone se eu ficar um pé no saco"
Cento e dez
Cento e vinte
Cento e sessenta
Só pra ver até quando
O motor aguenta
Na boca, em vez de um beijo,
Um chiclet de menta
E a sombra de um sorriso que eu deixei
Numa das curvas da highway !

essta infinita highway!








INFINITA HIGHWAY

O mito de origem envolve dois fatos ocorridos em 11 de janeiro de 1985. O primeiro: no palco do Rock In Rio, em Jacarepaguá, servido como aperitivo de Iron Maiden, o filósofo Erasmo Carlos foi barbaramente vaiado e cuspido por mais de 100 mil metaleiros. O segundo: em Porto Alegre, numa festa da Faculdade de Arquitetura da UFRGS, uma banda chamada Engenheiros do Hawaii estreou após apenas três ensaios e foi aplaudidíssima tocando jingle de extrato de tomate ("Ó, Mônica, abrace o elefante...") e "Lady Laura", de Roberto e Erasmo.

O astrólogo e ex-engenheiro do Hawaii Carlos Maltz pode até suspeitar de alguma conjunção celestial naquela noite. Afinal, a sabedoria que Erasmo espalhou, junto com seu parceiro, em alguns clássicos da música brasileira, foi parar, ainda que, por mistérios do inconsciente, à beira da "Infinita Highway" do grupo que ele (Carlos Maltz) fundou junto com o baixista Marcelo Pitz e Humberto Gessinger.

A música que mudou definitivamente a trajetória dos Engenheiros tangência canções de Roberto Carlos e do Tremendão em pelo menos três pontos: "você me faz correr demais" ("Por Isso Corro Demais"), "eu vejo as placas dizendo ‘não corra’, ‘não morra’, ‘não fume’" ("É Proibido Fumar"), e "a sombra de um sorriso que eu deixei numa das curvas da Highway" ("As Curvas Da Estrada De Santos"). Mais explícita, porém, na letra, é uma frase de O Muro, de Jean-Paul Sartre: "a dúvida é o preço da pureza". Outra referência: a faixa faz parte do segundo LP do grupo, A Revolta Dos Dândis, cujo nome é o mesmo de um capítulo do livro O Homem Revoltado, de Albert Camus. O escritor franco-argelino que escreveu o adorável ensaio O Mito De Sísifo, sobre a lenda mais rock n’ roll da Grécia Antiga (afinal, fala de um sujeito condenado a ficar eternamente subindo uma colina com pedras que, uma vez lá no alto, sempre rolam abaixo), era uma das obsessões mais presentes nas letras de Humberto nessa fase.

Herr Gessinger pode apontar a MPB tradicional e o rock progressivo dos anos 70 como principais influências dos Engenheiros, mas, na salada existencialista (sem espaço para a Chiquita Bacana) de suas composições, a Jovem Guarda foi importante. Ela cruza o destino da banda em um de seus hits cruciais, a regravação de "Era Um Garoto Que, Como Eu, Amava Os Beatles E Os Rolling Stones". "Essa é a música mais importante da minha vida. Por causa dela, eu ganhei um violão quando guri", admite Humberto. O iê-iê-iê vertido pel’Os Incríveis em 1966 ajudou a fazer de O Papa É Pop (quinto álbum, lançado em 1990) o maior sucesso da carreira dos Engenheiros: mais de 400 mil cópias vendidas.

Entre O Muro, de Sartre (de onde saiu "a dúvida é o preço da pureza"), e The Wall, do Pink Floyd (outra obsessão de Humberto), os Engenheiros são o tijolinho que faltava na desconstrução do pseudo-rebelde rock brasileiro. Ou, quem sabe, o tijolaço que faltava no telhado de vidro de uma turma pretensiosa que se pretendia moderna e sofisticada e que não tardou em virar panelinha no establishment do show business nacional.

Entre a inquietude existencialista (fora de moda entre intelectuais) e uma sabedoria popular atavicamente jovem-guardista, Humberto Gessinger e seus ex-colegas de Arquitetura construíram uma obra das mais sólidas e importantes da música brasileira recente.

O grupo que ele, Carlos Maltz e Marcelo Pitz iniciaram é o verdadeiro Só Pra Contrariar. Contestando a contestação estabelecida, atacando a subversão fácil, contra a situação, mas, mais ainda, contra a oposição óbvia, totalmente do contra, os Engenheiros do Hawaii sempre foram sinônimo de inteligência, lucidez e acidez no rock que tomou o país na década passada.

Deliciosa contradição: o trio foi fabricado artificialmente. "Eu, o Marcelo e o Carlos não éramos colegas nem amigos. Foram os professores que organizaram o evento na faculdade de Arquitetura que botaram a gente em contato", confessa Humberto.

Ele ressalta um fato importante: os Engenheiros sempre trabalharam com total independência. Jamais gravaram música por sugestão de produtor ou de diretor artístico e, dentro do estúdio, sempre tiveram liberdade para fazer o que dava na telha. "A primeira vez que eu tive de mostrar uma demo na gravadora foi no Minuano (o décimo disco, de 1997). A única ingerência era aquela baixaria de escolher ‘música de trabalho’".

Para usar uma palavra difundida ao norte do rio Uruguai pelo analista de Bagé (personagem de Luís Fernando Veríssimo), trata-se de uma banda bagual. Um "animal asselvajado", "arisco e pouco sociável", também o "tratamento carinhoso que se dá a um cavalo", como atestam os pais-dos-burros da língua portuguesa.

Alguém poderia escrever que os dez álbuns aqui reunidos pintam, sempre pela ótica do indivíduo, um retrato do Brasil, esta nação jovem com tendências a Dorian Gray, e seus tropeços nos últimos 14 anos. Se pintam, porém, não é culpa deles. Exegeses (arre, égua de palavra), interpretes e cabecismos assim são irrelevantes diante do valor intrínseco das canções.

Para que elas pudessem ser melhor apreciadas, os oito primeiros discos desta INFINITA HIGHWAY foram remasterizados – todos a partir das matrizes originais – pela Cia. Do Áudio. O salto de qualidade pode ser percebido até por ouvidos leigos, principalmente nos quatro primeiros LPs. O quinto, O Papa É Pop, cuja matriz apresentava drop-outs (falhas), também teve problemas corrigidos, e a edição do ao vivo Alívio Imediato recebeu importantes acertos. "Em geral, cortamos chiados e houve ganho de espaço estereofônico. A diferença é gritante", garante Carlos Freitas, engenheiro responsável pelo processo.

O LP de estréia, Longe Demais Das Capitais, foi registrado em 1986, em São Paulo. "Nós dividíamos os horários com os Garotos Da Rua (banda gaúcha que, assim como os Engenheiros, foi projetada a partir da coletânea Rock Grande Do Sul), e apostava-se muito mais neles. A gente gravava meio no tempo livre dos caras, tipo de manhã cedo. Eu estou sempre com voz de quem recém acordou nesse disco", descreve Humberto, então guitarrista.

O produtor Reinaldo Barriga Brito montou o bagual de rédea solta. "Ele deixava a gente viajar, foi músico de baile", conta o engenheiro-chefe. Na época, o trio fazia o que ele chama de "reggae deutsche", um reggae alemão, meio duro, assumidamente calcado em Police e Paralamas. Essa é a cara sonora nos antológicos hits "Segurança" e "Sopa De Letrinhas". A originalidade, porém, já aparece no rock gauchesco "Longe Demais Das Capitais". E há a clássica e niilista "Toda Forma De Poder", que fez Carlos Maltz exclamar, profético, assim que Humberto lhe apresentou a música: "Pô, isso vai ser o maior sucesso!"

Marcelo Pitz saiu antes de o grupo gravar o segundo LP, A Revolta Dos Dândis, em 1987, levando consigo todas as jamaiquices. Humberto assumiu o baixo e deixou a guitarra para Augusto Licks, um músico respeitado no Rio Grande do Sul que havia entrado em contato com os Engenheiros a partir de um encontro casual com Carlos Maltz, num show do Echo & The Bunnymen, no Canecão. Com currículo extenso na MPG (a MPB gaúcha), estilo límpido e "frio", Licks foi fundamental para que se cristalizasse a personalidade do grupo – a milhas e milhas do pós-punk inglês xerocado e plagiado por colegas de geração –, mais folk e baladeira .

Quem esteve na reunião de apresentação do disco, na então RCA (hoje BMG), não apostaria nisso. Humberto lembra: "Ficou todo mundo com cara de bunda, sem entender nada. Acho que escolheram ‘Revolta I’ como música de trabalho porque era a primeira do disco". A canção não aconteceu. Foi aí que, com mais de seis minutos de duração, citações de Sartre e tudo mais, "Infinita Highway" ocupou todas as rádios do Brasil e mudou a história dos Engenheiros... Parte da letra tinha sido rabiscada inicialmente em 1979, nos cadernos de Segundo Grau de Humberto.

Ele por pouco não auto censurou outro sucesso enorme do disco, "Terra de Gigantes": "Eu achava que era plágio de ‘hey, mãe, não sou mais menino...’, do Erasmo (olha ele aí outra vez!)". Curiosidade: a estranha "Vozes" era seu maior palpite para hit. "Achava que era a melhor coisa que eu já tinha feito na vida." O prêmio faixa-visionária, porém, vai para "Filmes De Guerra, Canções De Amor", rock com batucada estrelado por Carlos Maltz e por uma senhora cuíca.

Produzido por Luís Carlos Maluly,Ouça O Que Eu Digo, Não Ouça Ninguém, de dezembro de 1988, introduz os teclados na engenharia havaiana. Os sucessos "Somos Quem Podemos Ser" e "A Verdade A Ver Navios" tocaram insistentemente nas rádios (obrigando o grupo a se mudar definitivamente para o Rio), mas o discurso do disco é cortante. A faixa-título beira o trotskismo: "Pele morena, vendendo jornais, vendendo muito mais do que queria vender (...) o que nos devem, queremos em dobro, queremos em dólar, queremos agora". Em "Tribos E Tribunais", Humberto espalha brasa para "fascistas de direita, fascistas de esquerda", "pessoas que nunca aparecem ou aparecem demais".

Durante as gravações do LP, o grupo havia feito um show histórico no festival Alternativa Nativa, no Rio. Maracanãzinho, diante de 20 mil pessoas, Humberto chegou usando uma camisa da seleção uruguaia. Na segunda música, tomou um tombo feio no palco e quebrou o baixo. Nem assim os Engenheiros deixaram de sair consagrados. E nem essa consagração os impediu de levar esporro por falar alto demais no salão de sinuca onde foram comemorar, naquela mesma noite. Não faziam questão de agradar a ninguém.

Em 1989, saiu Alívio Imediato, gravado ao vivo no Canecão – à exceção de "Nau À Deriva" e "Alívio Imediato", duas excelentes canções inéditas, presentes em versões de estúdio. Mais do que uma prova da força do trio no palco (no mesmo ano, eles tocaram na União Soviética e impressionaram platéias que não entendiam patavinas das letras e tampouco de suas polêmicas aliterações), é um registro da histeria que ele provocava.

O Papa É Pop, de 1990, é uma obra singular que conseguiu rimar causticidade com popularidade. Com timbres readymade, bem produzido, mil efeitos de estúdio, marcou uma nova fase na engenharia hawaiiana. Só pra contrariar, só pra aliterar, vamos lá: um crítico cretino de hoje diria, cri-cri, que eles "já flertavam com a eletrônica". "Estávamos aborrecidos com o lenga-lenga do rock", traduz Humberto. "Afinal, o que é rock n’ roll, os óculos do John ou o olhar do Paul?", pergunta a brilhante canção-título, que tem os Golden Boys (mais Jovem Guarda!) no coro. "Todo mundo é moderno, todo mundo é eterno, como um relógio antigo", espeta a pouco conhecida "Nunca Mais Poder".

Insistindo nas auto-referências e apostando em formatos "progressivos" (muito entre aspas), o trio botou na boca da então menina Patrícia (recém-saída do Trem Da Alegria) a barra-pesada de "A Violência Travestida Faz Seu Trottoir", e recuperou a já citada "Era Um Garoto Que, Como Eu, Amava Os Beatles". Humberto não sabia que a canção tinha sido um sucesso tão marcante. Até que um dia arriscou levá-la, de improviso, num showmício de Leonel Brizola.

Para horror da pseudointelligentzia nacional e dos radialistas oligofrênicos, os Engenheiros reincidiram no caudilhismo ao gravar a genial "Herdeiro Do Pampa Pobre", de Gaúcho Da Fronteira (e Vainê Darde), em Várias Variáveis, lançado em 1991. Mais auto-referentes, aliterativos e corrosivos ainda, eles vomitam na hipocrisia do show business na pauleira "Sala Vip", composta nos bastidores do Rock In Rio 2: "Eu não devo nada pra ninguém, tô de saco cheio". Humberto define a experiência inspiradora: "Foi um show absolutamente irrelevante, apesar das 200 mil pessoas."

"Sampa No Walkman" digere Caetano sem a odarice babona de uns e os irracionais ataques de pelanca de outros. "São Paulo era meio terra estrangeira para nós, gaúchos morando no Rio. A crítica era toda inimiga; o público, apaixonado e imenso", comenta Humberto. Ouvir este grande disco hoje pode motivar revisões históricas: as letras de "Muros & Grades", "O Sonho É Popular" e "Curtametragem" estão entre as mais brilhantes da década e "Ando Só" é uma balada heavy perfeita.

Gessinger, Licks & Maltz, de 1992, encerra uma segunda trilogia (iniciada por O Papa É Pop). Letras e arranjos conciliam apuro formal e frieza "geométrica" com angústia e raiva. Explodindo em power chords da guitarra de Licks, a pseudobalada "Ninguém = Ninguém" antevê traições e punhaladas num desencantado comentário sobre a unanimidade pós-impeachment que dominava o Brasil.

Até o ano passado, Humberto considerava este o melhor trabalho dos Engenheiros. Motivos para tal avaliação não faltam: quem der uma chance às delirantes "Túnel Do Tempo", "A Conquista Do Espaço" e "Pampa No Walkman" (uma emocionante milonga) vai descobrir um superdisco. "A mídia na época passou a gostar de rock violento. Eu me orgulho de ter tocado ‘Parabólica’, uma música que não tem nem bateria, abrindo para o Nirvana, no Hollywood Rock de 1993. Essa é pra contar aos netos", vibra Humberto, referindo-se à canção que fez para a filha Clara.

Gravado ao vivo em julho de 1993, na sala Cecília Meireles, no Rio, Filmes De Guerra, Canções De Amor é outra pérola porcamente ouvida pela crítica da era grunge. "O som deste disco está lindo", impressiona-se Carlos Freitas, engenheiro de remasterização. Muito acima dos padrões dos discos acústicos marqueteiros de hoje em dia, é um CD ousado que abre horizontes jazzísticos e até bossanovistas (numa primorosa recriação de "Muros & Grades") para os Engenheiros. Wagner Tiso arranjou três faixas com músicos da Orquestra Sinfônica Brasileira: a belíssima e épica "Mapas Do Acaso" (uma antecipação do modismo retrô deodatiano vigente em 1998), "Ando Só" e "O Exército De Um Homem Só" (ambas em versões definitivas, de arrepiar). "É o melhor disco do Augustinho (Licks), é onde ele está mais inteiro", elogia Humberto.

A saída do guitarrista, no final de 1993, foi um baque. Inicialmente, Carlos e Humberto tentaram completar o trio com o porto-alegrense Ricardo Horn (que havia conhecido Gessinger moleque, em rodas de chorinho!), mas ao vivo a coisa não saiu a contento. Vieram então dois outros reforços: o guitarrista Fernando Deluqui (ex-RPM), sugerido pelo empresário da banda, Gil Lopes, e o tecladista Paolo Casarin, que tocou com os Garotos da Rua e com o Bixo da Seda, histórica formação do rock gaúcho dos anos 70.

No fim de 1995, saiu Simples De Coração, gravado em Los Angeles, com o produtor americano Greg Ladanyi. É um trabalho bem diferente da "engenharia havaiana" tradicional, desde as letras, mais "abertas", aos vocais de apoio, passando pelos órgãos Hammond e pelos acordeons (em três faixas), que sinalizam uma opção por temperos gaúchos. "Eu chamei o Casarin pensando nisso", conta Humberto. "Por Acaso" prenuncia o caminho de volta a Porto Alegre, logo percorrido. "A Promessa" foi o maior hit, mas "A Perigo" e a faixa-título também tocaram em rádio.

Minuano, o disco lançado em 1997, traz uma formação revitalizada. Sem Carlos Maltz – agora vocalista da banda Irmandade –, mas com Adal Fonseca na bateria e Luciano Granja na guitarra (os dois, remanescentes do Gessinger Trio), mais o tecladista Lúcio Dorfman, os novos Engenheiros engrenam em diferentes direções já na primeira faixa, o caipirock "Banco". Acertam um retorno ao pop existencialista em "A Montanha" (feita em Gramado, na serra gaúcha), emplacam duas baladas inspiradas, "Faz Parte" e "Nuvem", e recuperam do lixo da história o brega-cabeça "Alucinação", do idiossincrático Belchior. "Adoro essa coisa suburbana dele", elogia Humberto. Com o Laçador (estátua cartão-postal de Porto Alegre) na capa e participação de Kleiton Ramil, Minuano confirma o direcionamento regional: a Highway agora cruza o trem-fantasma de grupos como os Almôndegas e o Saracura, que fizeram excelentes trabalhos nos anos 70.

Longe das capitais novamente, desafiando as leis de mercado e da gravidade, Humberto Gessinger agora contempla a obra dos Engenheiros do Hawaii do alto de seus dez álbuns. "Não me assusta virar caixa", anuncia. Quase quatorze anos depois, está tudo de pé, válido e valioso em suas várias variáveis. Ele continua fazendo as pedras rolarem e subindo a montanha para trazê-las de volta, como o Sísifo do mito grego – que, como bem observou Camus, não sifu coisa nenhuma.

Pedro Só.

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