terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Silêncio no barracão. Grande Rio, Portela e União da Ilha choram após o fogo consumir seus carros alegóricos e fantasias no Rio

Três escolas de samba choram após o fogo consumir seus carros alegóricos e fantasias




O incêndio que em três horas arruinou o trabalho de meses de centenas de funcionários dos barracões da Grande Rio, Portela e União da Ilha, na Cidade do Samba, e provocou prejuízos de cerca de R$ 8 milhões, mudou o carnaval carioca. Como faltam 27 dias para o desfile e as três escolas tiveram tanto fantasias quanto carros alegóricos destruídos - na Grande Rio, a mais prejudicada, as perdas são de quase 100% -, não há condições de igualdade com as outras nove do Grupo Especial.

A Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa) anunciou, na noite de ontem, que nenhuma das 12 escolas do Grupo Especial será rebaixada em 2011. Dessa forma, 13 escolas se apresentarão no Grupo Especial em 2012 - as 12 deste ano mais a campeã do grupo de acesso. Na apuração de 2012, duas escolas serão rebaixadas.

A Liesa também confirmou que haverá mudança na ordem dos desfiles. A Mocidade Independente de Padre Miguel, que estava programada para entrar na avenida no domingo de carnaval, dia 6 de março, às 23h10, irá trocar de horário com a Portela, uma das atingidas pelo incêndio na Cidade do Samba, que desfilaria na segunda-feira de Carnaval. Os desfiles da Grande Rio e da União da Ilha foram mantidos nos mesmos horários, na segunda-feira de Carnaval, dia 7 de março.

Destruição

O fogo começou por volta das 7h e foi controlado depois das 10h - se fosse mais tarde, quando é bastante intenso o fluxo de pessoas, acredita-se que teria provocado mortes. O trabalho de rescaldo foi acompanhando durante a manhã e a tarde por dezenas de funcionários, carnavalescos e dirigentes. Atônitos, muitos choravam.

A Liesa, administradora da Cidade do Samba desde sua inauguração, em 2005, também teve dependências queimadas. O chamado Museu do Carnaval pode ter sido o foco inicial - os bombeiros ainda não sabem se começou lá ou no barracão da União da Ilha, nem qual foi a causa; um laudo ainda está sendo elaborado pela Polícia Civil, que mandou peritos ao local.

Embora a Grande Rio seja um caso perdido, com 3,3 mil fantasias e oito carros inutilizados, seu presidente, Hélio Oliveira, que chegou a passar mal de tanta tensão, tentava não esmorecer. "A Grande Rio desfila nem que seja com uma camiseta e uma pluma. A vontade não foi queimada." O prefeito Eduardo Paes (PMDB), portelense que já saiu na bateria de sua escola, foi ver os estragos e garantiu apoio financeiro às três escolas. Na Portela, 2,8 mil fantasias foram incendiadas, mas os carros se salvaram; na União da Ilha, as chamas consumiram 2,3 mil fantasias e afetaram parte dos carros. A Polícia Civil descartou a hipótese de incêndio criminoso.

Vice-campeã três vezes nos últimos cinco anos, a Grande Rio era considerada a única das três com reais chances de conquista do campeonato. (AE)

Escolas prometem "renascer das cinzas"

O incêndio que destruiu as fantasias, alguns carros alegóricos e praticamente retirou da competição a Acadêmicos do Grande Rio, Portela e União da Ilha, não consumiu o ânimo das comunidades destas três escolas de samba que prometem fazer de tudo para aprontar o desfile em menos de 30 dias. Eles sabem que não terão chances na disputa, mas querem a escola na passarela do samba.

"Vamos entrar com garra, não vamos deixar a peteca cair. Faço 60 anos no dia 8 de março e vou comemorar quando a nossa Grande Rio entrar na avenida", promete Maria das Graças Pereira da Costa, 59 anos, há 22 desfilando na escola e uma das 85 baianas cujas fantasias foram queimadas.

"Vamos fazer o carnaval acontecer. Nosso patrono, o senhor Jayder Soares, não nos faltará", afirma a baiana depositando suas esperanças no bicheiro que mantém a escola. As três escolas contam com a solidariedade das chamadas comunidades, que vão desde os seus componentes históricos, patronos, patrocinadores, ao comércio dos bairros onde estão instaladas e até mesmo às demais concorrentes.

A União da Ilha, segundo o presidente, Ney Filardi, ontem tinha a promessa de 30 máquinas de costura de um amigo da escola e um galpão para o ateliê das fantasias. (Agência Estado)


Fiscalização nos ensaios do Estado será mais rigorosa

A fiscalização aos barracões e aos ensaios das escolas de samba capixabas devem ficar mais intensos agora. Depois do ocorrido no Rio de Janeiro, o Corpo de Bombeiros do Estado fez um levantamento preliminar que mostrou que apenas a Jucutuquara tem alvará para realização de ensaios. Além disso, nenhum dos barracões tem licença para funcionar.

De acordo com o chefe da Sessão de Vistorias dos Bombeiros, capitão Wesley Nunes Reis, hoje será feito um novo levantamento, mais minucioso. "Esse fato do Rio nos despertou a necessidade de uma fiscalização mais contundente. É importante essa regularização", destacou.

Tanto o local dos ensaios quanto os barracões devem ter saídas de emergência, em boa dimensão e iluminada; extintores e hidrantes de parede. E se o terreno for maior que 900 metros quadrados, a escola tem que apresentar um projeto contra incêndios na corporação. "Muitas escolas não têm barracão fixo, o que prejudica a fiscalização. O ideal seria fazer uma Cidade do Samba, igual a do Rio de Janeiro", explicou o cabo Joilson Silva Ribeiro.

Escolas de samba capixabas sobreviveram a incêndios

Reerguer-se depois de um incêndio de grandes proporções não é nada fácil. Que o diga a Mocidade Unida da Glória (MUG), que viveu o pior momento de sua história em 1992, quando um incêndio destruiu seu barracão.

Por conta disso, a escola da Glória ficou 10 anos afastada da passarela do samba e só retornou em 2002, com o enredo "O Renascer da Cinzas". Com poucos recursos financeiros, a escola suou a camisa para voltar a desfilar. E não decepcionou: consagrou-se como uma das grandes escolas do carnaval capixaba, conquistando o vice-campeonato naquele ano.

No ano passado, foi a Unidos de Jucutuquara que passou por um susto. Em janeiro, pouco antes do Carnaval de Vitória, houve um princípio de incêndio no barracão da escola. O fogo começou em uma pilha de lixo e foi apagado por integrantes da Novo Império.

Uma semana depois, a Imperatriz do Forte viveu esse drama. Parte de um carro alegórico da agremiação foi queimada. A própria comunidade se uniu para recuperar o prejuízo.

Material usado pelas agremiações aumenta as chamas

Os materiais utilizados pelas escolas de samba para confeccionar as fantasias e ornamentar os carros alegóricos podem ter contribuído para o incêndio que atingiu a Cidade do Samba, no Rio de Janeiro, ontem pela manhã, se alastrasse de forma mais rápida. Boa parte dos produtos em questão são inflamáveis, como isopor, papel, madeira. Além disso, as escolas também utilizam maçarico, cola e solda. "Aqui no Estado usamos as mesmas coisas. Ninguém está livre de um incêndio como esse", ressalta o presidente da Mocidade Unida da Glória, Carlos Roberto Ribeiro, o Robertinho. No barracão da Piedade, por exemplo, é proibido fumar. "O material que é inflamável também fica em uma sala à parte", contou Robson Lessa, presidente da agremiação.

A Gazeta

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